terça-feira, 17 de julho de 2007

musa

Na feira do livro de Porto Alegre do ano passado comprei este livro de poemas do Joelson. Era dia de festa, encontros e bate-papo, mas a sessão de autógrafos acontecia pela primeira vez naquele pavilhão afastado do espaço central, o que irritou muita gente acostumada as outras 50 vezes em que o burburinho do centro animava os viventes de POA. Ele eu já conhecia das minhas andanças pelos sebos de Porto Alegre, na convivência camarada na livraria Noigandres do Zeca, João e companhia. Terçamos gostos e descobrimos uma ou outra afinidade. Na época chamou-me a atenção a caixinha de remédios em que parece se apresentar o livro, pois não muito tempo antes um outro poeta amigo meu havia feito algo deste tipo: o Escobar com seu adorável receituário do "Milongol". Deixei o livro para ser lido em outros tempos e eis que neste final de semana o clima frio fez-me dedicar-me a ele. De fato o paralelo temático com o Escobar é grande, não só a apresentação é parecida, mas o tratamento pessoal aos poemas e aos temas também se aproximam. É como se uma musa brincalhã tivesse tocado a ambos e ficado a observar o que cada um faria com sua inspiração. No caso do Joelson o livro tem um ciclo de poemas centrais (prozac+annas) que correspondem a doses progresivamente mais altas de um medicamento qualquer. As elegias vão ficando mais complexas e mais fortes, assim como um sujeito que teima em ficar viciado em um determinado remédio que deve salvá-lo de um mal maior. Ao mesmo tempo ele vai se aprofundando nas histórias e lembranças. Há passagens realmente mágicas. Sua garimpagem de temas e as curtas elegias são muito tocantes. Gostei. Cabe dizer que a edição é muito bem cuidada mesmo. Há ilustrações e um tratamento gráfico que enobrece o livro (em que pese o fato dos poemas se defenderem sozinhos, vale dizer). A Brejo é uma jovem editora adminstrada por uma jovem brigada de entusiastas lá de Porto Alegre. É deles a edição do "Os Loureiros estão Cortados", do Dujardin, lançada em 2005, certamente um marco nos estudos joyceanos brazucas e sei que as peças completas do Alfred Jarry (Ubu Rei, Ubu cornudo, Ubu no outeiro e Ubu acorrentado) estão para sair do forno ainda este ano. Se é que os poetas se encontram pelas amizades e pelos temas estou certo que cedo ou tarde Joelson e Escobar estarão a ler juntos algo para os amigos. E se é que os projetos inovadores no mercado livreiro garantem alguma imortalidade a seus editores a editora Brejo merece nosso carinho e atenção.
elegias prozac+annas & outros poemas, Joelson Ramos, Editora Brejo, 1a. edição (2006) ISBN: 85-99450-03-4

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