sexta-feira, 11 de abril de 2008

patrimônio

Há livros que compramos e guardamos como quem investe na bolsa de valores. Ouvimos uma opinião, um indicação, folheamos displicentemente o livro mas resolvemos seguir o instinto mais primário de o deixarmos de lado. Anos depois o reencontramos (ou ele nos reencontra) e eis que o livro está pronto para ser lido. Foi o que aconteceu com este: "Patrimônio", de Philip Roth. Reencontrei o livro, li quase de uma sentada só, muito satisfeito. Não que o livro seja banal, longe disto, trata-se de um belo texto que descreve o que deve ser o mais difícil: um filho se despedir de um pai dignamente. Ulalá. O que mais dizer? Publicado no início dos anos 1990 o livro descreve os últimos meses de vida do pai quase nonagenário de Philip Roth. Como ele mesmo teve um ataque cardíaco neste período sua dupla experiência de morte torna este texto, ironicamente, uma espécie de réquiem em tempo real. Para mim as palavras chave do livro são estoicismo e memória, mas a memória é múltipla: do judaísmo, da psicanálise, das relações afetivas, dos legados familiares. Roth pai dizia "não se deve esquecer de nada" e Roth filho vai se analisando no processo, registrando de forma obsessiva as várias fases pelas quais o pai passa, rememorando outras mortes, de avós, mãe, irmãos, amigos, vizinhos, amantes. Belíssimo livro. Fez-me pensar em procurar nos meus guardados outros livrinhos dele há muito tempo deixados de lado. Talvez seja a hora de voltar a ler o "Operação Shylock", o "Teatro de Sabbath", "Avesso da Vida", "Mentiras", sim Mentiras, eis um livro para se voltar a ler.
"Patrimônio, uma história real", Philip Roth, tradução de Beth Vieira, editora Siciliano, 1a. edição (1991) brochura 14x21cm, 202 pág., ISBN: 85-267-0400-1

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