domingo, 3 de agosto de 2008

o conto do amor

"O conto do amor" é um romance do psicanalista Contardo Calligaris. Ele é conhecido também por escrever para jornais de grande circulação do Brasil sobre temas variados. De fato ele é um ensaista muito competente, que sabe manter o interesse em sua coluna mesmo trabalhando com o material frágil que são as notícias do dia a dia, invariavelmente superadas pelo tempo. Neste livro ele envereda por uma seara nova, a de romancista. O livro não é ruim, mas para o meu gosto comportado demais, linear demais, "redondinho" demais, como disse meu amigo Vitor. Você lê o livro em um dia sem se apressar, a leitura é elegante, mas simples. Claro, o livro é bem escrito, a trama é interessante, mas falta a agressividade visceral que os grandes romancistas sabem incluir em qualquer texto que escrevem. Eu escrevo isto como se Contardo Calligaris tivesse pretenções deste calibre, mas sou apenas o chato que dá sua opinião besta aqui. Bom, o enredo envolve a busca de um sujeito pelo passado de seu pai, um italiano apaixonado pela pintura renascentista italiana, com quem sempre teve um relacionamento nada íntimo. A luta contra o fascismo durante a primeira metade do século passado e o exílio dos esquerdistas italianos na redemocratização da Itália são o pano de fundo para uma história que é bem pessoal e envolve o contraste entre duas gerações que de fato pouco se identificam. A busca deste passado envolve milhares de quilometros de viagens aéreas entre Nova York, Milão, Florença, Siena, em capítulos alternados e um tanto repetitivos. O acaso é fundamental na trama. Sem as muitas coincidências, achados oportunos, cartas reveladoras, e-mails salvadores, encontros e envolvimentos fortuitos, insights psicanalísticos de última hora, nada avançaria no livro. De qualquer forma há passagens muito bonitas e instigantes. Se é definir em poucas palavras diria que o livro me pareceu um "Código da Vinci" pessoal, a busca de uma verdade obscura seguindo pistas tênues deixadas pelo pai e pelos amigos de seu pai. Lê-se com prazer, não há nada que ofenda a inteligência do leitor, mas estou certo que não será este o melhor romance de Calligaris.
O conto do amor, Contardo Calligaris, editora Companhia das Letras, 1a. edição (2008) brochura 14x21cm, 124 pág. ISBN: 978-85-359-1204-3

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