domingo, 2 de novembro de 2008

los pájaros de Bangkok

Em geral vou lendo meus livrinhos e fazendo rabiscos, anotando passagens nas guardas do volume, registrando impressões várias. Neste poderoso “Los pájaros de Bagkok” não fiz nada disto: comecei a história e “presto!”, em dois dias já tinha terminado. O “Tatuaje” resenhado abaixo é o segundo livro da série Carvalho e este é o sexto. Com ele Montalbán ganhou o Prêmio Nacional de Literatura espanhol do ano de sua publicação, 1983. Como sempre em Montalbán o enredo interessa mas não é realmente tão importante quanto a forma: uma amiga de Carvalho lhe telefona dando conta que está em dificuldades na distante Bangkok. A família e a embaixada espanhola confirmam a gravidade do caso. O detetive está quase sem assunto em sua Barcelona. Tenta ser contratado por um industrial para resolver um caso de desfalque familiar, mas o sujeito prefere ser enganado (isto acontece.) Ao mesmo tempo se envolve na investigação de um assassinato inusitado que descobriu pelos jornais. Interroga um grupo grande de pessoas, mas ninguém parece estar interessado em pagar por seus serviços (no final, apesar dos fatos terem sido compilados por ele quem vai solucionar este caso serão Charo, Bromuro e Biscuter). Esta história toma mais que um terço do livro e em nada se relaciona com o caso da amiga desaparecida. Para este acaba sendo contratado e parte em viagem. Mais que ajudar sua amiga a voltar de uma Tailândia exótica e perigosa, o que Carvalho faz é refletir longamente sobre a vida e a morte (até com monges budistas ele se encontra no caminho.) A violência, a doença e a morte estão o tempo todo rondando o detetive. Há contrastes interessantes no livro, como a descrição das camadas turísticas que todo país tropical tem e sua imersão nos subterrâneos verdadeiros porém duríssimos de sua população; ou a coexistência de poderes paralelos e conflitantes no sistema legal e policial dos países subdesenvolvidos; a óbvia dicotomia ocidente/oriente; ou também os ritmos diferentes das viagens para o exterior do mundo e pelo interior das gentes; e a irrelevância da razão quando estamos envolvidos afetivamente de fato com alguém (ou com alguma causa.), pois afinal de contas o ser humano sabe matar e também sabe morrer por amor. De qualquer forma percebe-se na narrativa que o Carvalho que volta à Barcelona está mudado. Continuará sabendo ser sarcástico e objetivo, mas ao passar pelas fronteiras da idade da razão perdeu mais que um tanto de frescor (e se fosse possível, de inocência.) Em “Milênio” Carvalho voltará a estes problemas, ao existencialismo, a esta região, mas desta feita sendo ele a pessoa que se persegue. Ula-lá. Agora é tarde, mas que bom teria sido se eu tivesse tido a chance de ler todos estes livros na ordem em que Montalbán os inventou. Paciência. Já é hora de mudar de rumo e de tom.
"Los pájaros de Bangkok”, Manuel Vázquez Montalbán, editora Planeta, 2a. edição (2007), brochura 15x23cm, 406 págs. ISBN: 978-84-08-05043-8

Um comentário:

Anônimo disse...

você gosta mesmo do Vázquez, hem? de fato, é um refinado autor. até mesmo um refinado autor de romances de mistério, o que não é muito comum no gênero.

bem aproveito a oportunidade pra te convidar a conhecer meu novo blog, e atualizar o link aí em sua barra lateral. agora estou no http://www.verbeat.org/blogs/razbliuto/

Grato.