quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

vida de fantasma

Esta edição de "Vida de fantasma" foi publicada originalmente em 2000 e inclui 100 crônicas, três quartos delas escritas entre 1976 e 1996 (basicamente os anos de Felipe González como primeiro ministro espanhol) e um quarto delas escritas entre 1997 e 2000 (nos primeiros anos do governo de José Maria Aznar). Parte são crônicas de costumes, políticas, semelhantes àquelas reunidas no "Pasiones Pasadas", mas não são as mesmas. O sujeito realmente escreve à beça. Nestas o tom é o mesmo. Geralmente ele é muito crítico, tanto aos sucessos do governo socialista de Felipe González quanto aos sucessos do governo conservador de José Maria Aznar. Mas há também um punhado de crônicas literárias e outras quase ficcionais, de um articulista que comenta os autores que tem lido, que fala das lembranças que tem de seu bairro, que comenta a redescoberta de uma cidade que visitou e na qual teve experiências importantes. Há escritos que são obtuários. Os dois textos onde ele fala de seu pai impressionam pelo contraste na forma e no tom, apesar de terem sido publicados com apenas um dia de diferença. A ironia, ou antes, o sarcasmo mesmo, abunda neste conjunto de crônicas. Parece que Marías tem momentos onde prefere ser cruel, mesmo quando afeta algum enfado sobre um tema. Seus textos sobre temas culturais, sobre política cultural levam o leitor a refletir. Formam o conjunto mais uniforme e seminal do livro. Gostei de uma passagem onde ele diz: "La cultura es siempre resultado, nunca proyecto ni tan siquiera processo. Por tanto no obedece a leyes ni tampoco a modas. Creer lo contrario es, en efecto, el error de muchos políticos, aunque me temo que también el de Rubert de Ventós" (um conhecido sociólogo catalão, nascido em 1939, que em um texto da época - 1982 - advertia os madrilenhos por seu talvez excessivo apego a temas culturais). Seguirei lendo este sujeito. E ainda hei de discutir com Lola Vázquez suas impressões sobre ele, agora ainda mais enigmáticas para mim (como nos ensina o narrador de Proust no Guermantes: "cada vez compreendo menos o seu caráter"). Bom livro afinal de contas. [início 06/11/2009 - fim 22/11/2009]
"Vida de fantasma", Javier Marías, ediciones Debolsillo (1a. edição) 2007, brochura 13x19, 487 págs. ISBN: 978-84-8346-424-3

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