segunda-feira, 20 de agosto de 2012

esse é o meu tipo

Foi Sibele Andreoli, designer multi-talentosa, querida amiga, quem me apresentou o mundo das fontes, lá nos anos 1980. Estávamos no MASP, em uma exposição de quadros do Sérgio Ferro, e ela falou-me com entusiasmo sobre o livro que estava editando, no qual o uso adequado das fontes era algo fundamental. A partir dali sempre tive curiosidade em saber que tipo era utilizado nos livros que lia, como era feita a composição, quem era o designer ou o capista. É mesmo verdade que a curiosidade intelectual nunca faz mal a ninguém. Bueno. Apesar do inusitado do tema qualquer pessoa interessada no mundo da produção editorial, dos jornais, dos livros e das gráficas, certamente irá gostar de "Esse é o meu tipo". Simon Garfield conta com bom humor e muita objetividade histórias sobre fontes tipográficas. Hoje em dia tende-se a acreditar que os computadores geram do nada a miríade de fontes que disponibilizam, mas há algo de essencialmente humano e artesanal na origem delas. Artistas muito habilidosos produziram letra a letra as primeiras matrizes em metal a partir das quais Gutenberg pôde multiplicar em fundições os tipos móveis (reutilizáveis!) utilizados em suas prensas. Com as variações de largura e espaçamento, inclinação e eventuais ligaduras, as fontes podem produzir efeitos muito distintos no leitor. Para a legilidade ou funcionalidade delas contribuem tanto aspectos do mundo racional, técnico, científico, quanto do mundo da arte, subjetivo, das sensações quase inexprimíveis. O autor responde várias perguntas: porque algo que pode ser adequado para uso num livro eventualmente é terrível quando impresso em um cartaz?; como uma fonte pode tornar-se onipresente em determinada época enquanto outras desaparecem? qual a diferença entre legibilidade e leiturabilidade? Garfield mescla o que poderíamos chamar de biografias das fontes e de seus designers com uma história linear da tipografia, desde os tempos do industrioso Gutenberg até o vibrante mundo digital em que vivemos, onde qualquer sujeito pode inventar a sua fonte, se tiver engenho e tino. O livro é muito bem editado. Não há monotonia nele. Encontramos centenas de fontes, acompanhamos os argumentos do autor através dos exemplos gráficos que ele dá. Já as ilustrações são belíssimas, a bibliografia e a seleção de links na internet muito generosa. É o tipo de livro que o leitor lê satisfeito e depois fica semanas a folhear, incerto em desfazer-se dele, guardá-lo em uma estante, abandoná-lo. Paciência. Vamos em frente.
[início 21/07/2012 - fim 30/07/2012]
"Esse é o meu tipo: Um livro sobre fontes", Simon Garfield, tradução de Cid Knipel, Revisão técnica: Luiz Fernando Gerhardt, Rio de Janeiro: editora Zahar, 1a. edição (2012), brochura 14x21 cm, 359 págs. ISBN: 978-85-378-0829-0 [edição original: Just my type: a book about fonts (Londres: Profile) 2010]

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