terça-feira, 21 de janeiro de 2014

vida querida

Comparado aos dois outros livros de Alice Munro que já li e resenhei aqui, "Felicidade demais" e "Fugitiva", esse "Vida querida" deixa muito a desejar. Não gostei de nenhuma das histórias, achei-as esquemáticas demais, artificiais demais. Talvez seja apenas o esgotamento típico que experimentamos quando lemos em sequência vários livros de um mesmo autor (embora isso nunca acontece quando este autor é realmente poderoso, seminal, grande). Paciência. Questões feministas são apresentadas mais explicitamente nestes contos do que nos anteriores. O narrador de Alice Munro sempre fala como se explicasse ao leitor um filme que assistem juntos, um quadro de uma exposição que veem, uma cena da vida real que se desenrola para ambos, mas talvez estas explicações sejam irrelevantes, óbvias, simplistas (o que aborrece o leitor). Alice Munro também abusa nestes contos dos encontros casuais que fazem suas histórias se movimentar. A vida real é mesmo uma sucessão infinita de acasos, aleatoriedades, mas há ordem mesmo na loucura (se quisermos vê-la) e mesmo o caos pode ser determinístico (se quisermos estudá-lo). O livro reúne quatorze contos. Dez deles são pura ficção e geralmente envolvem, como num tríptico, sedução/sexo/separação (e suas consequências). Uma ou outra história empolga (uma, "Com vista para o lago", na qual o narrador é a consciência de uma senhora senil; outra, "Orgulho", na qual um casal de amigos partilham confidências enquanto envelhecem), mas é pouco. As quatro narrativas que fecham o livro, identificados como "Finale", são ficcionalização de memórias e não propriamente invenções. A escritora e a memorialista se confundem sobre qual delas deve ser condescendente e qual delas deve ser indulgente e isso prejudica as narrativas, tornando-as meros exercícios de aplicação de um modelo de escritura, de uma forma já bastante experimentada de contar histórias, como se ela fosse a professora de uma oficina de literatura cuja aluna é ela mesma. Sei lá. Talvez seja mesmo o caso de esquecer Munro por uns tempos, tentar ler estes contos num outro dia e ver se eles podem me agradar mais. Sigamos. Um desvio sobre a tradução: Preciso ainda conversar com o Galindo sobre isso, mas ele optou por umas escolhas que me fizeram pensar um bocado. Há pelo livro coisas que no início soam inusitadas, como "tirar uma lasca", "engrupindo", "encarar o rojão", "fora da casinha", "tirar o sarro" mas que depois se diluem no texto. Estará o Galindo nos ajudando a aumentar o léxico, nos instruindo sobre o leque de palavras que temos a disposição e evitamos usar no dia-a-dia - ao menos eu, pernóstico que sou, evito?. Veremos.
[início: 21.12.2013 - fim: 25.12.2013]
"Vida querida", Alice Munro, tradução de Caetano W. Galindo, São Paulo: editora Companhia das Letras, 1a edição (2013), brochura 14x21 cm., 316 págs., ISBN: 978-85-359-2367-4 [edição original: Dear Life (Toronto: McClelland and Stewart Limited / Random House / Bertelsmann) 2012]

2 comentários:

Anônimo disse...

Coloquei um link para esta postagem, pois acabei de reler e comentar o Vida Querida. Abraços!

Cláudio B. Carlos disse...

Concordo com você. Não gostei do livro.