segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

compaixão

Nunca havia lido algo de Toni Morrison, a vencedora do prêmio Nobel de 1993. "Compaixão" é um de seus romances mais recentes, publicado originalmente em 2008 (ela publicou outros dois depois deste, em 2012 e 2015). Morrison conta uma história que se passa no final do século XVII, ainda no início da colonização da região que viria a formar as treze colônias britânicas (região que, por sua vez, se tornariam os Estados Unidos como nação independente em 1776, uns cem anos após os sucessos inventados por ela). Morrison dá voz a uma menina escrava negra de origem portuguesa, alfabetizada às escondidas por um padre. Essa garota, Florens, começa seu relato quando já é adolescente, descrevendo como foi aceita aos 6, 7 anos em troca de uma dívida que seu proprietário (D'Ortega, um plantador de tabaco) tinha com um outro plantador e comerciante, Jacob Vaark, de origem inglesa e holandesa. Sua mãe e seu irmão haviam sido oferecidos inicialmente a Vaark, mas a mãe sugere que seja Florens a moeda de troca na transação, pois o menino ainda amamentava. A compaixão original é a aceitação de Vaark. Florens é levada por Vaark para sua propriedade onde vivem também sua mulher, Rebekka, de origem holandesa e que havia acabado de perder uma filha; uma escrava de origem indígena, Lina; Sorrow, uma garota algo amalucada que havia sido resgatada de um naufrágio e era provavelmente filha bastarda do capitão do navio; e dois trabalhadores mais ou menos livres, Willard e Scully. Tanto Lina quanto Sorrow, assim como Willard e Scully, não são exatamente escravos de Vaark, mas não deveriam ter muita alternativa à época do que trabalharem para ele em troca de alimentação e segurança. Todos os personagens ganham voz em algum ponto da narrativa de Morrison. A diversidade social da região naquela época era mesmo grande. A história central do livro é a jornada de Florens, já adolescente, em busca de um ferreiro negro que é livre e conhece o uso de ervas  e plantas medicinais. Esse sujeito havia ajudado Vaark na construção da sede de sua propriedade. Vaark morre deixando essa mansão inacabada e já sendo tomada pela vegetação. Sua viúva, Rebekka e as três mulheres (Lina, Sorrow e Florens) continuam administrando a plantação com ajuda de Willard e Scully (mas são as habilidades e os conhecimentos de Lina sobre a natureza que realmente mantém as plantações produtivas). Em algum momento Rebekka fica doente e envia a jovem Florens (usando os sapatos do marido morto) para uma trazer o ferreiro até a propriedade e eventualmente salvá-la. Florens parece apaixonada pelo ferreiro (os capítulos em que é ela quem fala são dirigidos para ele, como se fossem cartas, confissões). Morrison parece querer exemplificar como era o complexo afluxo de imigrantes e o contato entre as religiões na América do Norte no início de sua colonização, enfatizando o papel das mulheres no processo de criação do caráter americano. Livro interessante. Vou procurar outras coisas dela. 
[início: 12/12/2015 - fim: 14/12/2015]
"Compaixão", Toni Morrison, tradução de José Rubens Siqueira, São Paulo: editora Schwarcz (Companhia das Letras), 1a. edição (2009), brochura 14x21 cm., 156 págs., ISBN: 978-85-359-1506-8 [edição original: A mercy (New York: Knopf Doubleday Publishing Group) 2008]

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