segunda-feira, 9 de julho de 2018

assassínio na academia

Li "Assassínio na academia" há quase um ano, em julho passado, mas como havia resolvido só publicar meus registros de leitura dos livros de Donna Leon cronologicamente, eis que somente agora tenha a oportunidade de fazê-lo (não tenho ainda os vinte e oito volumes de aventuras do comissário Brunetti publicados por ela, mas estou perto, já que fui comprando edições portuguesas, espanholas e inglesas de suas obras). Vamos a ver. Neste volume Donna Leon embaralha, como sempre faz, vários temas, enfatizando um deles quando se prepara para finalizar a narrativa. O jovem filho de um médico, antigo e incorruptível deputado veneziano é morto na academia militar que frequentava. Esse deputado, membro de uma tradicional família de venezianos, havia produzido relatórios sobre sistemáticos desvios de dinheiro do exército italiano, mas acabou se afastando da política após a morte da mulher em um suposto acidente de caça. Brunetti começa a investigar o caso, mas Patta, particularmente insuportável nesse volume, tenta controlá-lo, justamente pelos interesses cruzados da máfia e pela secular corrupção entranhada na política italiana. Os temas importantes são apresentados rapidamente: a leniência do povo do Sul da Itália, os problemas com imigrantes, a corrupção e o controle político nas eleições (estamos nos tempos em que Silvio Berlusconi é primeiro ministro, cuja ascensão ao poder é resultado colateral da operação "Mãos limpas", a investigação judicial de grande envergadura que provocou profundas mudanças no quadro partidário italiano no início dos anos 1990, algo bem parecido com o que está acontecendo agora com a operação "Lava a jato"). Nesse volume também somos apresentados a novas facetas de Paola, que ajuda o marido com sua perspicácia, e descobrimos um Brunetti não tão olímpico, perfeito, mas sim um sujeito que num acesso de raiva e por falta de paciência põe tudo a perder. Ele sabe (como sabemos bem também nós, brasileiros) que um escândalo têm o mesmo prazo de validade que o de um peixe fresco, pois após três dias ambos são inúteis, ninguém mais se importa. Donna Leon sabe fazer seu protagonista e seus personagens secundários evoluírem, tornarem-se mais humanos e críveis. Esse talvez seja o mais amargo dos volumes que li desta série. Mas vamos em frente. Vale! 
Registro #1284 (romance policial #71) 
[início: 17/07/2017 - fim: 19/07/2017]
"Assassínio na academia (Brunetti #12)", Donna Leon, tradução de Maria José Santos, Lisboa: Planeta Manuscrito (Grupo Planeta), 1a. edição (2009), brochura 15,5x23,5 cm., 268 págs., ISBN: 978-989-657-018-7 [edição original: Uniform Justice (Zürich: Diogenes Verlag AG / Penguin Randon House Group) 2003]

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