quarta-feira, 29 de maio de 2019

cartas a harriet

Neste pequeno volume encontramos 62 das muitas cartas ou cartões postais que James Joyce enviou entre 11/11/1914 e 19/06/1939 para Harriet Shaw Weaver, sua amiga, editora, executora literária e também sua mecenas quase particular por muitos e muitos anos. É bobagem especular cousas assim, mas acredito ser bastante improvável que Joyce alcançasse publicar - da forma que publicou - seus três grandes romances: "Retrato de um artista quando jovem", "Ulysses" e "Finnegans Wake", sem a ajuda dela. E mais, seria muito improvável até que sua vida material - o pagamento de sua moradia, alimentação, cuidados da família e das muitas operações nos olhos que fez ao longo da vida - tivessem acontecido da forma que aconteceram. Edna O'brien, famosa especialista em Joyce, escreveu em um artigo que provavelmente Harriet Weaver transferiu (em dinheiro de hoje) mais de um milhão de dólares, dos quais jamais pediu compensação exata na forma de direitos autorais ou coisa que o valha. Joyce enviava-lhe seus manuscritos, mas isso jamais foi uma condição dela para as remessas de dinheiro. Mesmo depois da morte de Joyce, Harriet, que sobreviveu a ele quase vinte anos, continuou apoiando sua família, tendo sido responsável pelos funerais de Nora Joyce e os muitos cuidados hospitalares dedicados a Lucia Joyce. Aprende-se um bocado sobre o caráter e a biografia de Joyce lendo as cartas. Ele era um sujeito irascível e parte de suas obsessões restam registradas nas cartas. A organização do volume e tradução das cartas e cartões postais é de um casal industrioso lá de Santa Catarina, os professores universitários Dirce Waltrick do Amarante e Sérgio Medeiros (deles já registrei aqui vários livros e ainda tenho vários outros para ainda registrar, ai de mim). À edição eles acrescentaram um conjunto de mais de duzentas boas notas curtas e dois ensaios robustos, que contam algo da biografia e contextualizam as circunstâncias da troca de cartas entre Harriet Weaver e James Joyce. As cartas foram compiladas de quatro portentos editados nos anos 1950, 1960 e 1970 por Richard Ellmann, o seminal biógrafo de Joyce: os três volumes do "Letters of James Joyce" e o volume "Select Letters of James Joyce". É pena que nenhuma das cartas enviadas à Joyce por Harriet Weaver tenha sido incluída na seleção, mas trata-se obviamente de uma decisão autoral e editorial que se sustenta de várias formas. As cartas e postais dão conta de como Joyce circulava pela Europa e revelam doses mais ou menos equivalentes de generosidade, cumplicidade, lamentos, demandas e exploração, pura e simples. O leitor curioso pode aprender algo sobre esta notável mulher aqui: clika!, ou conferir um artigo de Edna O'Brien publicado na New York Review of Books: clika aqui!. Bueno. Em poucos dias estaremos a comemorar mais um Bloomsday, aqui em Santa Maria, em Dublin e em centenas de outras cidades ao redor do mundo. Nenhuma destas comemorações deveria existir sem que ao menos uma citação de louvor a Harriet Weaver fosse feita. Haverá mais registros sobre livros dedicados as cousas de James Jocye, muito em breve. Você já está preparado para o Bloomsday 2019? Vamos em frente. Vale!
Registro #1406 (cartas #9)
[início:12/05/2019 - fim: 16/05/2019]
"Cartas a Harriet", James Joyce, tradução de Dirce Waltrick do Amarante e Sérgio Medeiros, São Paulo: editora Iluminuras, 1a. edição (2018), brochura 14x21 cm., 128 págs., ISBN: 978-85-7321-589-2

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