quarta-feira, 7 de agosto de 2019

el hombre que nunca existió

Já escrevi aqui sobre "Operación Desengaño", o romance onde se transforma em ficção uma legítima operação de contra-espionagem empreendida durante a segunda grande guerra mundial: a de enganar os nazistas, fazendo-os acreditar que a invasão do continente europeu dar-se-ia pela Córsega, Sardenha, Grécia e Balcãs, e não diretamente pela Sicília, como de fato aconteceu. Publicado em 1950 "Operação Desengaño" chamou muito a atenção do público, de forma que o serviço de segurança britânico, que havia sido responsável pela operação, decidiu não negar o fato. Imaginando que tal divulgação seria boa propaganda para o moral dos ingleses (eram tempos de guerra fria), decidiram revelar muitos detalhes de como deu-se a operação, que oficialmente chamou-se "carne moída", uma piada algo macabra. A trapaça envolveu lançar de um submarino o cadáver de um pretenso oficial inglês com documentos sigilosos, que fizessem o alto comando nazistas acreditar nos planos futuros dos aliados. Ewen Montagu foi o oficial da inteligência britânica que liderou toda operação. Diz a lenda que ele escreveu seu "O homem que nunca existiu" em apenas um final de semana. De qualquer forma, seu livro, publicado em 1953, foi um sucesso, vendeu milhões de cópias e foi rapidamente adaptado para o cinema, também com excelente resultado nas bilheterias. O livro de Montagu é tão interessante de ler quanto o de Duff Copper. Em certa medida é até melhor, pois há boas reproduções de fotografias, de mapas e gráficos, das cartas oficiais forjadas e de uma miscelânea de objetos que foram enviados junto com o cadáver do falso "comandante Martin", o tal homem que nunca existiu do título. Os dois volumes se complementam perfeitamente. Esse volume tem dois prólogos, um assinado pelo historiador John Julius Norwich, filho de Duff Copper, e outro assinado por Hastings Ismay, que foi chefe do estado maior durante o primeiro período em que Winston Churchill foi primeiro ministro inglês. Montagu admite várias vezes ao longo de sua narrativa que vários detalhes continuavam sob segredo de estado, principalmente o nome do subordinado seu que teve a ideia original, a identidade do morto e de como o serviço secreto acompanhou as movimentações nazistas que se seguiram a descoberta do corpo. Diversão de primeira. Pode até não ser verdade que Montagu escreveu seu livro em apenas um final de semana, mas este é o tipo de livro que o leitor não para de ler antes de terminar. Esses volumes editados pela Reino de Redonda (de Javier Marías) são mesmo ouro puro e fino. Ave, Marías!, sempre. Vale!
Registro #1437 (perfis e memórias #117)
[início: 13/06/2019 - fim: 05/07/2019]

"El hombre que nunca existió", Ewen Montagu, tradução de Antonio Iriarte, prólogo de John JUlius Norwich, Madrid: Reino de Redonda, vol. 34, (1a. edição) 2019, capa-dura 14,5x23 cm., 402 págs., ISBN: 978-84-947256-3-0 [edição original: The Man Who Never Was (London: Evans Brothers) 1953]

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