domingo, 29 de novembro de 2009

in the dutch mountains

Publicado originalmente em 1984 "In the Dutch mountains" é um livro onde lemos um escritor escrevendo um livro (que virá a ser o livro que temos em mãos a ler). Como nos demais livros de Nooteboom que já li neste há elementos algo mágicos, ora flertando com os contos de fada, ora com o mundo interior dos indivíduos. Um espanhol, da região de Zaragoza, engenheiro e responsável pela manutenção das auto-estradas (as carreteras) da região, aproveita seus meses de férias para se isolar em um colégio e escrever ficção. Já publicou alguns livros, sem fazer muito sucesso de vendagem, mas é o tipo de sujeito que preza a literatura acima de tudo e prefere gastar suas férias escrevendo que viajando ou ficando com a família. Quando era jovem passou uma temporada nas terras holandesas e domina um tanto do idioma. O livro que ele está escrevendo (e sobre o qual reflete o tempo todo, criando planos entre a ficção produzida por ele e a ficção produzida por Nooteboom) é uma alegoria, um conto de fadas, mais ou menos baseado na história da rainha das neves. Se é que eu me lembro bem uma rainha do polo norte sequestra um menino (que tem uma farpa de gelo encravada em seu coração). A irmã do menino procura por ele e o encontra enregelado no palácio de gelo da rainha. As lágrimas da irmã despertam o menino e o livra do encanto, permitindo que ambos retornem para casa. No livro que o personagem de Nooteboom está escrevendo dois outros personagens, Kai e Lúcia, ideiais de beleza masculino e feminino, trabalhavam em um circo, que acabou de cerrar as portas. A falência do circo foi uma armadilha para atrair os dois para uma proposta de trabalho no sul da Holanda, que é quase outro país, com controle fronteiriço, máfias controlando todas as atividades. Kai é sequestrado por uma rainha das neves (uma mafiosa da fronteira). Lúcia é ajudada por uma anciã e um velho palhaço. A rainha das neves mantêm Kai como um escravo sexual (e ele aos poucos esquece da namorada). Lucia descobre que o palhaço que a ajuda é uma mulher. Elas conseguem entrar no castelo onde Kai está aprisionado e o salvam (após um tiroteio onde todos os personagens perversos - estafetas e prepostos da rainha das neves - morrem). O narrador/escritor espanhol fica feliz por ter alcançado um final feliz para o livro que está escrevendo. Ele fica sozinho no pátio do colégio jogando amarelinha, como se fosse novamente uma criança. Se é que todo livro tem um moral, eu diria que Nooteboom no fundo nos está apresentando os desafios da unificação européia, do conflito entre o norte frio, objetivo, refinado, organizado e o sul sangüineo, pobre, perigoso, violento. Ele discute um tanto sobre ideiais de beleza, sobre linguagem e filologia (que aproximam e afastam os homens), sobre a psicologia e a auto-imagem que cada um tem, sobre o poder das armas e da sexualidade. É um livro bom de se ler, que faz perguntas interessantes ao leitor. Nunca é demais elogiar o grande sujeito que é Nooteboom. [início 26/08/2009 - fim 14/10/2009]
"In the Dutch Mountains", Cees Nooteboom, tradução de Adrienne Dixon, Penguin books (1a. edição) 1987, brochura 13x19,5, 128 págs., ISBN: 0-14-011829-2

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