sábado, 29 de maio de 2010

criação imperfeita

Bueno. "Criação imperfeita" é o tipo de livro que só serve na verdade para quem já saiba um tanto de física, um tanto de história da ciência. Por mais que Marcelo Gleiser se esforce por encontrar um tom didático e acessível os temas que ele aborda são naturalmente áridos para não se permitirem reduções tão elásticas como aquelas que ele faz. Paciência. Como um bom malabarista de paradoxos me parece que ele escreveu este livro mais para se desculpar do passado, de suas escolhas no passado, do que escrever algo realmente novo ou original (tudo parece muito improvisado e mal articulado). Com este livro aparentemente ele prepara terreno onde espera esgrimir seus argumentos (de divulgador científico) no futuro. Ele tenta agrupar toda a comunidade de físicos em um equívoco (a busca infrutífera por uma grande e final unificação) que nunca foi partilhado por toda a comunidade de físicos. Talvez ele devesse ser mais honesto intelectualmente e dizer que esta questão sempre foi um problema restrito a um grupo reduzido. A maioria dos físicos deste último século fez seu trabalho sem se preocupar com as implicações de uma eventual e mítica grande unificação. Ele vincula a busca por simetrias na ciência com o mito da grande unificação e, ao mesmo tempo, desqualifica as simetrias. Ora, no mundo real são muitos os fenômenos associados às simetrias e às quebras de simetrias. Não consigo entender sua aparente incapacidade de aceitar o fato das lei de Gauss para a eletricidade e para o magnetismo serem intrinsicamente distintas (existem cargas elétricas, porém não existem monopolos magnéticos). O livro é dividido em cinco seções. A primeira e a última são muito ruins, pois vagas, dispersivas, onde o tom, pessoal demais, personalista demais, chegaria a ser irritante se não fosse risível (ele pontua certas descobertas científicas com fatos de sua vida, como se o universo realmente girasse em seu redor). O epílogo é ainda mais pessoal e apocalíptico, como se as dúvidas e as questões entre ele e seus filhos importassem algo para o futuro da humanidade. Na segunda seção e na quarta, o tom é um tanto mais adequado, mas o tratamento dado aos temas continua frouxo demais. A seção central, onde ele descreve os fundamentos da física da matéria condensada e da física de partículas é bom, mas duvido que alguém não familiarizado com física possa aproveitá-lo plenamente. Tem um lacanismo besta no livro (uma brincadeira com "procura " ser "pró-cura") que não dá para aguentar. Gosto de dizer que "o mundo é assim" para sintetizar o quão surpreendente ele o é. Gleiser parece querer chamar para seu campo teórico aqueles que não compartilham exatamente os fundamentos da ciência. Neste temas compartilho o cetismo e o tom de Richard Dawkins ou Christopher Hitchens por exemplo, estes sim sujeitos que não têm medo em delimitar o quê é aceito cientificamente do que pertence a uma outra forma qualquer de conhecimento. Paciência. "Eppur si muove", já disse Galileu muitos anos atrás. [início 10/05/2o1o - fim 17/05/2010]
"Criação imperfeita", Marcelo Gleiser, editora Rocco, 1a. edição (2010), brochura 16x23 cm, 366 págs. ISBN: 978-85-01-08997-7

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Aguinaldo,
estou mega exclamada com o tanto de livros que vc lê!
Estou lendo Criação Imperfeita e até estou gostando, mas como não sou da área, minha opinião é suspeita.
Enfim, gostaria de saber se vc leu/comentou O Universo Elegante (Brian Greene) e Alice no País do Quantum (Robert Gilmore).
Também estou folheando os dois; estou gostando do primeiro e achando o segundo muito confuso.
Abç. ; )
C.