quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

donde se guardan los libros

Esse livro é um mimo que todo bibliófilo folheia encantado, é uma jóia para todos aqueles que amam verdadeiramente os livros. Jesús Marchamalo é espanhol, um jornalista cultural premiado, que já publicou vários livros onde apresenta curtas biografias de escritores, tradutores e filólogos. "Donde se guardam los libros" oferece uma abordagem diferente. Ao invés de falar explicitamente dos seus biografados ele mostra e descreve as bibliotecas deles, fazendo uma curta digressão sobre sua gênese, os critérios de organização, as motivações, as técnicas de manutenção, os temas e histórias que abrigam. São vinte escritores: Fernando Savater, Clara Sánchez, Arturo Pérez-Reverte, Antonio Gamoneda, Enrique Vila-Matas, Gustavo Martín Garzo, Clara Janés, Juan Eduardo Zúñiga, Luis Alberto de Cuenca, Carmem Posadas, Francisco Rico, José Maria Merino, Mario Vargas Llosa, Andrés Trapiello, Soledad Puértolas, Javier Marías, Luís Landero, Jesús Ferrero, Juan Manuel de Prada e Luís Mateo Díaz. Além de transcrever o registro das conversas com eles, de cada um Marchamalo pede que descreva três volumes em particular: um de sua própria produção, um de literatura em geral e um especificamente de literatura espanhola. A edição da Siruela é belíssima, cheia de fotografias e ilustrações. As fotografias recortam a imensidão dos livros (nenhuma das bibliotecas parece ter menos de dez mil volumes, estamos falando de bibliófilos mesmo, maníacos e acumuladores quase todos). Marchamalo dificilmente mostra as estantes em sua totalidade, mas sim pequenas tomadas de detalhes que contam algo da personalidade dos proprietários dos livros. Não há leitor que possa folhear o livro sem sorrir satisfeito, concordando com uma escolha, reconhecendo volumes que também possui, admirando a forma e a textura dos livros. Há quem guarde alguns livros empilhados pelas paredes, sem classificação; há quem compre sempre um novo exemplar quando não encontra algo que está seguro de possuir - perdido entre os guardados; há quem desterre para algum sótão ou porão, de tempos em tempos, volumes que aborrecem ou desagradam; há quem acrescente caixas pelos corredores, contendo tesouros desconhecidos; há quem compre outros apartamentos, outras casas, para ir morar exilado dos livros, pois esses tomaram-lhe todo o espaço vital; há quem distribua pacientemente os volumes para os amigos, os parentes, as bibliotecas públicas. Alguns anotam e rasuram todos os livros que leem, outros zelosamente apenas marcam umas poucas passagens à lápis. Há quem conheça o primeiro livro, o embrião da montanha que agregou-se à ele. A maioria deles acrescenta às estantes artefatos acumulados ao longo da vida: esculturas, brinquedos, relógios, chaves, copos, aparadores, pratos, cinzeiros, postais, carimbos de ex-libris, fotografias, guias de viagem, cartões, mapas, garrafas de bebidas. Alguns se lamentam dos livros esquecidos em viagens, perdidos em mudanças, roubados por amigos cruéis. O livro é pequeno, cada escritor tem pouco espaço para falar de sua relação com os livros, mas o tempo de construção de cada uma das bibliotecas parece congelado nas belas fotografias de Marchamalo (acho que são mais de cem delas). Uma versão digital desse livro, com filmes das bibliotecas e animações com os livros, ao invés das fotografias, seria um desejo autoral possível para os próximos anos, explorando as possibilidades que a tecnologia certamente oferecerá. Cabe dizer que Marchamalo tem um bom blog, que vale uma visita. Bueno. Esse é um livro certo para encerrar o ciclo de leituras do ano, mas ainda tenho tempo de registrar que o único problema desse livro é cultivar a inveja pela fortuna desses sujeitos, lamentar o fato deles terem aqueles livros todos à mão, enquanto nós, os leitores, não os temos, não da mesma forma e quantidade, por maior que seja cada uma de nossas coleções de livros. Impossível mitigar essa cobiça. Vale. [início: 11/11/2011 - fim: 20/12/2012
"Donde se guardan los libros: Bibliotecas de escritores", Jesús Marchamalo, Madrid: ediciones Siruela (coleção El Ojo del Tiempo / Fundación Germán Sánchez Ruipérez) (1a. edição) 2011, brochura 16x24, 223 págs. ISBN: 978-84-9841-609-1
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Um comentário:

juliana g. disse...

Oi, tudo bem? Por favor, onde você conseguiu comprar este livro?
=)