terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

formas de volver a casa

"Formas de volver a casa" é o terceiro romance de Alejandro Zambra. É um tanto maior que "Bonsai" e "La vida privada de los árboles", mas ainda assim trata-se de um romance curto. Desta vez através da história que se conta Zambra reflete (e digressa e descreve), explicitamente, os tempos da ditadura militar chilena. Mas ele o faz através dos olhos de um menino, basicamente com a mentalidade de um menino, como se ainda fosse difícil para ele emular exatamente seus sentimentos sobre aquilo (até porque ele é jovem o suficiente para não se sentir envolvido emocionalmente com a ditadura). Afirmo isso pois nos dois romances anteriores os narradores são sujeitos muito seguros de si (apesar destes narradores estarem as voltas com circunstâncias que os imobilizam: Julio - de Bonsai - a sua patética história de amor e Julian - de La vida privada de los árboles - a sua espera inútil pela chegada da mulher. O narrador/escritor adulto de Formas de volver a casa, que é quem está contando a história de sua infância, também usa os truques metaliterários que os narradores/escritores anteriores utilizavam nos dois outros livros. Mas agora o processo é mais sofisticado, já que ele (Zambra afinal de contas) controla mais completamente o que oferece ao leitor. Sabemos que é a memória histórica do Chile que está sendo contada, mas sabemos também que nada é factual, tudo é ficção, invenção, criação literária. No La vida privada de los árboles o narrador questiona-se sobre sua forma de escrever, argumenta que na verdade um livro mais honesto ("el único livro que seria valioso escribir") seria um relato sobre "aquellos dias de 1984". Talvez seja esse afinal "Formas de volver a casa" esse único livro valioso que se deve escrever. Zambra é antes de mais nada um acadêmico, um professor de literatura, portanto deve gostar desse processo analítico de invenção (em sua obra nada parece acontecer por acaso, um livro decorre - brota, seria o símile fácil, se lembrarmos do Bonsai - do outro). A história propriamente dita acontece entre dois terremotos que aconteceram no Chile, o primeiro em 1985, quando o narrador é um completo neófito no mundo, e o segundo em 2010, imediatamente antes da posse do presidente eleito (e atual presidente do Chile) Sebastián Piñera. O garoto é convencido por uma colega de escola, Claudia, a espionar um vizinho. Posteriormente o narrador adulto reencontra Claudia e se envolve emocionalmente com ela, daí ficaremos sabendo o que afinal acontecia naquela casa, quem era aquele vizinho. Simultaneamente o leitor acompanha a ansiedade dele após entregar os originais do livro para uma namorada (aparentemente ele não espera mais que hipocrisia e não uma avaliação honesta dela, de quem acaba se afastando). Mas o livro se publica, afinal de contas. Vamos a ver o que Zambra irá nos oferecer no futuro, se outro ramo brotará deste filão literário ou se ele irá explorar outras idéias, outras aventuras.
[início: 11/02/2013 - fim: 12/02/2013]
"Formas de volver a casa", Alejandro Zambra, Barcelona: editorial Anagrama, 1a. edição (2011), 14x22 cm., 165 págs., ISBN: 978-84-339-7227-9

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