Neste
volume encontramos dezessete contos de um dos grandes mestre do gênero,
o norte-americano Raymond Carver, morto já há mais de trinta anos. São
histórias sempre curtas, quase fragmentárias, de vidas de quem o leitor
não precisa saber muito, apenas o que foi dito ali em poucas páginas.
Seus contos são frequentemente ditos minimalistas, mas não são fáceis
nem de ler, e muito menos de escrever. Lembro-me de ter lido alguns logo
após ter visto "Short Cuts",
um bom filme do sempre bom Robert Altman, mas isso também foi há quase
trinta anos. Os contos de Carver gravitam sempre dificuldades de
comunicação, vidas em desacerto, problemas com o álcool, momentos
decisivos de alguém. Ele alcança fixar a atenção do leitor não com
descrições detalhadas, correrias, mimos culturais, mas sim com diálogos
algo diabólicos, que sintetizam todo um complexo contexto, conversas que
nos magnetizam. Além dos diálogos os contos primam pelo uso exemplar da
técnica de fluxo de consciência. Nem tudo precisa ser dito. Nem tudo
precisa ser apresentado diretamente ao leitor. Não vou tentar resumir
aqui os fatos das curtas histórias do livro. A mágica literária de Carver não está
nos fatos em si, mas em como aqueles personagens são enredados em
situações que cada um de nós compreende bem. Ao mesmo tempo, não se
trata apenas de verossimilhança, mas da capacidade de desnudar nossa
muita humana habilidade de mentir para nós mesmos, de negar a realidade,
de fingir e, também, de amar. Grande escritor. Vale!
Registro #1427 (contos #165) [início: 12/07/2017 - fim: 06/07/2019]
"De que falamos quando falamos de amor", Raymond Carver, tradução de Carlos Santos, Lisboa: Relógio D'Água Editores, 1a. edição (2015),
brochura 13x20 cm., 150 págs., ISBN: 978-989-641-517-4 [edição original:
What We Talk About When We Talk About Love (New York: Alfred A. Knopf) 1981]
4 comentários:
Salve, Aguinnaldo. Sempre leio suas curtas resenhas aqui, mas nunca comentei, pelo que me lembre. Gosto muito do Blog.
Conheces a história por trás desse volume específico do Carver?
Oi Guilherme, como vais? Agora você me pegou. Não tenho muita idéia não. A edição não fornece detalhes de como os contos foram reunidos. A bem da verdade a única informação é que alguns deles foram publicados em versões diferentes ao longo do tempo. Vou dar mais uma olhada no livro. Depois te conto. Abraço.
Boa noite! Aqui, nessa resenha, conta-se a história: https://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/helio-gurovitz/noticia/2015/03/do-que-falamos-bquando-falamos-de-raymondb.html
que história bacana. não sabia disto. vou ver se encontro esta versão estendida por aí. abraço guilherme.
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