sexta-feira, 28 de agosto de 2020

aranhas

De Carlos Henrique Schroeder já li os bons romances "História da chuva", de 2015, e "As fantasias eletivas", de 2014. "Aranhas" é seu volume mais recente. Trata-se de uma reunião de trinta e dois contos: dois terços narrativas bem curtas e um terço de contos comparativamente bem mais longos. No último conto, Armadeira (Phoneutria nigriventer), ecos de boa parte das trinta e uma histórias anteriores são evocados, reunindo os protagonistas delas em uma espécie de jogo, um jogo macabro, fantástico, de sonho. A exemplo deste último, cada conto recebe como título o nome de uma aranha. O leitor é informado que as histórias surgiram em meio a pesadelos associados a duas pinturas de  Odilon Redon, pintor e gravador francês, seminal mestre simbolista (as duas pinturas podem ser conferidas aqui: clika1 e clika2). Todavia, como sempre na boa literatura, sempre é bom enfatizar, não se sabe se as imagens da aranha triste ou da sorridente de Redon impressionaram o autor Schroeder ou apenas o narrador de suas histórias. As histórias gravitam temas fortes ou violentos: a hipocrisia; as relações de poder; os relacionamentos tóxicos; a tensão sexual entre indivíduos que vivem próximos; a memória de acontecimentos da infância que aflora e perturba adultos; a doença e a morte. Por vezes o narrador das histórias conversa com o leitor, confessando certas indecisões e justificando as guinadas abruptas delas (talvez haja um excesso de mortes - mas, claro, estamos no mundo das aranhas, muitas delas venenosas - entretanto estas mortes parecem saídas fáceis para as histórias, desfechos de ocasião). Gostei particularmente de algumas, aquelas em que se sobressaem um registro particular de linguagem (gírias ou língua cifrada de certas tribos urbanas) ou encontramos elaboradas descrições de ofícios e atos do cotidiano. Em todos os contos mais longos Schroeder alcança mostrar seu arsenal estético, para deleite do leitor, já nos contos curtos nem sempre isso acontece, parecem que ficam a dever algo (ao menos para esse menor dos anões dentre os leitores). Enfim, bom livro de um bom escritor. É hora de seguir em frente. Vale!
Registro #1558 (contos #180)
[início: 06/07/2020 - fim: 09/07/2020]
"Aranhas", Carlos Henrique Schroeder, Rio de Janeiro: Editora Record, 1a. edição (2020), brochura 14x21cm, 189 pág. ISBN: 978-85-01-11850-9

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