segunda-feira, 23 de julho de 2012

cujo

Foi don Marcelo Sahea, senhor de potentes poemas visuais, quem me falou com alegria sobre "Cujo", livro de estréia de Nuno Ramos no mundo da ficção. Nuno é um respeitado artista plástico, mas tem produzido curiosos livros de ensaios e de poemas em prosa, dele já resenhei aqui Junco, Ó e O mau vidraceiro. Fiquei de pedir a Sahea o empréstimo do livro, mas acabei por me açodar e encomendei-o de uma vez. É um texto difícil, mas que devolve ao leitor imagens, construções, aforismos e idéias muito interessantes. Nuno Ramos faz uma digressão poética da física dos materiais, da química de processos industriais, da biologia ou botânica do mundo vivo que cerca o homem, das metamorfoses entre o orgânico e o mineral. Ele parece falar sobre seu ofício, quando junta e transforma materiais para produzir arte e conceitos, mas ao descrever esta experiência ele nos apresenta um admirável mundo primevo, onde se desnuda a memória que nossos tecidos, sangue, fluidos e ossos têm de seu passado mineral. Inspirado pelo livro fiquei a pensar sobre muitas coisas: sobre a forma como coisas inanimadas se auto-organizaram, há milhões de anos; sobre como a beleza desabrocha do que está podre; sobre o fato do homem ser uma eterna criança que mal aprende, ou aprende mal, a entender as funções de seu corpo; sobre como apurar os sentidos para experimentar a interação da luz com a matéria. Divertido. [início 30/06/2012 - fim 22/07/2012]
"Cujo", Nuno Ramos, Rio de Janeiro: editora 34, 2a. edição (2011), brochura 12x18 cm, 88 págs. ISBN: 978-85-85490-14-0 [edição original: 1993]

3 comentários:

marcelo sahea disse...

Então lemos o mesmo livro, Guina! Desconfiei que gostaria. aBrossa!

vera maria disse...

Que lindo comentário e que livro interessante,
abraço, clara

vera maria disse...

Que lindo comentário e que livro interessante,
abraço, clara