É inevitável, quando um livro é bem escrito você é capturado por ele imediatamente, não importa o quão transcendental e importante era o que você estava lendo antes. "Cartas de Italia" (publicado originalmente em 1955) apesar do título não é um guia de viagens. Antes é um registro sentimental de trinta anos de viagens, o resultado da lenta decantação das experiências que Josep Pla teve pela Itália, entre 1921 e 1953. Quando vai para lá pela primeira vez é muito jovem (e a "juventude é a época dos milagres", ele nos lembra) e as últimas, que antecederam a publicação do livro, já era o catalanista ativo e dinâmico que lhe rendeu grande prestígio. Pois Josep Pla nasceu na Catalunya no final do século XIX. Jornalista e escritor
respeitado, foi um dos responsáveis pela modernização do catalão
(literariamente falando) e pela divulgação dos costumes e tradições de
sua terra. Apesar do leitor contemporâneo encontrar um texto que já tem sessenta anos, há tanta força narrativa nele, tanta riqueza das associações e reflexões sobre a arte, arquitetura, geografia e história (e nenhuma informação factual sobre estradas, hotéis e restaurantes - que de resto já estariam mais do que desatualizadas) que lemos este volume com imenso prazer. Óbvio que a Itália que Josep Pla conheceu passou por transformações significativas, mas aquilo que ele descreve sobre as características básicas de cada cidade que visita, de cada grupo de pessoas com quem conversa, de cada artista plástico, músico ou arquiteto cuja obra ele analisa, continua tendo valor. Suas observações são sempre claras, por vezes acentuando o olho do esteta, noutras enfatizando a sociologia, ou a gastronomia, ou a política. Seu humor é delicado, sua capacidade de síntese, notável. "Com o Vasari debaixo do braço" ele começa a descrição de suas viagens por Nice (que já fez parte de um território italiano - o ducado de Saboia), percorre as cidades mais próximas da Liguria e do Mar Tirreno, sempre rumo ao sul, até o golfo de Taranto e dali de volta ao norte, costeando o Mar Adriático, até chegar aos balcãs e aos contrafortes dos Alpes. São tantas as evocações. Quase no final do livro ele chega a Veneza e é aí que o leitor começa a lamentar-se das poucas páginas que lhe restam: "Cuando el tren deja, em Mestre, la tierra firme e enfila el puente de la laguna, se apodera de vosotros la fascinación bruja de Venecia." Como ler algo assim e não recordar o já vivido, nossas próprias experiências? Que sujeito. Seguro que vou procurar um de seus outros livros de viagens, um dedicado só a Roma. E seguro que já é tempo de voltar a viajar. Presto!
[início: 22/08/2013 - fim: 16/09/2013]
"Cartas de Italia", Josep Pla, tradução de Pedro Gómez Carrizo, Barcelona: ediciones Destino (Coleccíon Austral, Grupo Planeta), 1a. edição (2011), brochura 12,5x19 cm., 253 págs., ISBN: 978-84-233-4406-2 [edição original: Cartes d'Itàlia, (Barcelona: editorial Selecta) 1955]
Nenhum comentário:
Postar um comentário