Nas curtas férias de inverno, em meados de agosto, fiquei uns bons dias na São Paulo dos Campos de Piratininga que eu amo e que me envisga. Tive a boa sorte de conseguir participar do décimo "Hora H", evento que comemora e rememora a obra de Haroldo de Campos e inventei outros passeios e delícias sem fim, como sempre, "drowning in honey, stingless", todavia fiquei algo aborrecido logo ao chegar à exposição de Lucian Freud no MASP. O erro maior foi meu, de minha própria ansiedade, que fez-me acreditar que veria de perto uma vez mais quadros a óleo de Lucian Freud (aqueles que rivalizam com as maravilhas que produziu Francis Bacon, sempre meu favorito). Talvez eu devesse ter lido com mais cuidado o material de divulgação da exposição, mas esqueci-me disso. O que me incomodou foi que a exposição, apesar de ser muito boa, incluía apenas cinco ou seis telas que estavam distribuídos dentre num mar de águas-fortes (quarenta e quatro delas) e fotografias (talvez trinta, em grandes formatos, impressas pelo processo C-type). Claro, eu gosto muito de gravuras (by the way minha querida Helga é gravadora e foi ela quem ensinou-me a potência que se extraí da madeira, da pedra, do linóleo e do metal), mas eu queria mesmo é ver uma vez mais (e de perto) as pinturas de Lucian Freud. Paciência. Passado o aborrecimento inicial, a exposição acabou me conquistando. Os trabalhos em exposição percorriam os anos iniciais de sua produção (1947/1948) e alguns seus últimos trabalhos (2005/2006). Assisti um documentário de uns trinta minutos que oferecia uma mostra de como era seu método de trabalho (e também dava uma mostra de seu humor mordaz e de seu olhar quase etéreo). As fotografias de David Dawson, modelo e assistente de Freud por alguns anos, reproduzem também algo do dia a dia do artista, que era conhecido pelas longas sessões de trabalho com os modelos e o longo tempo que levava para decidir como finalizados seus quadros. O catálogo da exposição, que li com calma nestes meses últimos meses, é bastante completo. Trata-se de uma edição bilíngue, com textos relativamente curtos de Beatriz Pimenta Camargo (diretora-presidente do MASP); Teixeira Coelho (curador do MASP); Marc Balakjian (o mestre impressor das gravuras produzidas por Freud); Sally Clarke (uma de suas modelos); Craig Hartley (um especialista em gravura, autor do catálogo Raisonné de Freud) e David Dawson (fotógrafo, modelo e assistente de Freud). Esses textos ocupam metade do catálogo. A outra metade incluí todas as reproduções das gravuras, fotografias e pinturas da exposição. Boa parte das gravuras vieram da Fundación Museos Nacionales e do Museo de Arte Contemporáneo (ambos de Caracas, Venezuela), além dos acervos do Arts Council, do British Council e de coleções privadas inglesas. Já as pinturas foram emprestadas por coleções públicas inglesas. Nunca um catálogo substitui a experiência estética de ver uma exposição, mas esse em especial dá um boa idéia do que foi oferecido nela. E para quem tem paciência para uma exposição digital, muitos dos potentes óleos de Lucian Freud podem ser visto no The Athenaeum Artworks. Bom divertimento. Evoé.
[início: 10.08.2013 - fim: 29.12.2013]
"Lucian Freud, corpos e rostos: gravuras e pinturas com fotografias de Lucian Freud por David Dawson / Lucian Freud, portraits and figures: etchings and paintings with photographs of the artist by David Dawson", David Dawson (fotografias), Richard Riley e Delphine Allier (curadores), Teixeira Coelho (colaborador), tradução de Ana Goldberger, São Paulo: Comunique Artes editorial, 1a. edição (2013), capa-dura 21,5x28,5 cm., 142 págs., ISBN: 978-85-89496-23-0
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