sábado, 21 de dezembro de 2013

um elefante em albany street

Este é o octingentésimo registro de minhas leituras neste blog, registros iniciados em janeiro de 2007. Com ele quero homenagear um grande sujeito, o amigo Luiz-Olyntho Telles da Silva, um artífice de idéias, realizações e amizades, que fez 70 anos há dez meses, num glorioso 21 de fevereiro, numa gloriosa festa que tive o privilégio de participar. Talvez fosse por isso apenas que este registro em particular seja muito caro a mim. Mas penso que há outros motivos para que ele seja assim apresentado. Afinal ele foi adiado por tanto tempo, trata-se um livro tão especial e representa uma forma de entender outros livros, aqueles que todos lemos e tentamos decifrar, que compartilho com Luiz-Olyntho, pois há um justo equilíbrio entre critério e emoção. Li os ensaios reunidos em "Um elfante em Albany street" ainda em janeiro deste conturbado ano, mas como queria usar a publicação da resenha como propaganda de seu lançamento aqui em Santa Maria, adiei diversas vezes sua escritura. Infelizmente, a cada camada de atrasos nos planos que don Robson Gonçalves e eu tínhamos para viabilizar a vinda de Luiz-Olyntho para cá, como pretendíamos, aos aborrecimentos que justificaram os adiamentos somou-se a certeza que o ele e seu livro mereciam uma divulgação mais digna. Os livros se defendem sozinhos, claro, mas os exegetas (mesmo este menor dos anões dentre eles, como eu) podem ao menos fazer com que um determinado círculo de leitores os encontrem. Em "Um elefante em Albany street" estão reunidos dezoito ensaios que são frutos de um ciclo de palestras proferidas em Porto Alegre ao longo de 2010 chamado "Janelas para o mundo". Alguns são longos e detalhados, mas a maioria é de textos relativamente curtos, que se prestam a uma apresentação em público seguida de debates e/ou reflexões improvisadas. São textos ambiciosos, no sentido que almejam trazer ao leitor maior compreensão sobre coisas difíceis, mas o autor nunca se sobrepõe aos textos originais que critica e resenha. Os autores que Luiz-Olyntho escolheu apresentar compõe um panorama bastante eclético. Encontramos Homero e Eurípides; Beckett e Joyce; Machado de Assis e Chesterton; Vargas Llosa e Érico Veríssimo; Ferenc Molnár e Enrique Vila-Matas, Garcia-Roza e Cristovão Tezza, dentre outros. Os gêneros também são variados. A maioria dos ensaios discute romances, mas também há livros de poesia, de contos, teatro e épicos. Em todos encontramos muitas citações e indicações de leitura que estimulam a imaginação do leitor quando somados aos temas discutidos nos livros que ele analisa. Talvez um ou outro texto peque por um exagerado acúmulo de detalhes ou mesmo excesso de citações, mas a maioria deles são mesmo um deleite para os sentidos, para os leitores. O texto final, dedicado ao Ulysses é uma pequena jóia, que todo leitor de Joyce saberá apreciar. E então don Robson, vamos ou não vamos convencer don Luiz-Olyntho a vir à Santa Maria relançar este belo livro? Evoé.
[início: 13.01.2013 - 27.01.2013]
"Um elefante em Albany Street: A arte da descrição discreta", Luiz-Olyntho Telles da Silva, Porto Alegre: HCE editora, 1a. edição (2012), brochura 16x23 cm., 240 págs., ISBN: 978-85-65026-03-1

Um comentário:

Luiz-Olyntho Telles da Silva disse...

Querido Aguinaldo
Que seria do escritor sem o leitor? Ainda ontem pedia ao Ernani notícias suas e fiquei sabendo de todas as atribulações universitárias enfrentadas este ano; ao abrir o Facebook vi que estamos mais conectados do que pensava. Menos mal que 2014 já bate às portas renovando as promessas. E fico feliz que, em meio a tanto trabalho, tenha encontrado tempo para comentar Um elefante em Albany Street. E incluí-lo no privilegiado lugar da octingentésima resenha de seu blog, um verdadeiro presente de Natal! Quando interpreto um texto tenho sempre pelo menos duas preocupações: entender, tanto quanto possível, a intensão do autor e tentar descobrir os caminhos por ele percorridos até chegar à redação final. Sabemos que cada texto é sempre uma resultante de vários outros, de várias tentativas, experimentos e que, quando são bons, muito frequentemente são frutos de inúmeras leituras. Registre-se, por exemplo, o enorme número de leituras confessado por Flaubert para escrever o seu último e inacabado Bouvard e Pecuchét, sem falar nas diferentes leituras de Dante para poder escrever os versos ásperos do Inferno - Virgílio, Ovídio, Estácio e Lucano, entre outros -, e também os mais altos do Paraíso, aqueles que são, ao mesmo tempo, eruditos, graciosos e também sublimes, inspirados, segundo Curtius, pela prosa elevada, com destaque para Tito Lívio, Plínio, Frontino e Paulo Orósio. Muitas vezes, o que o autor gostaria de ter escrito aparece apenas sugerido e a busca por esses pequenos detalhes, acredito, enriquecem a leitura. Mas é claro que tomarei em consideração sua crítica; não é por ter ficado envaidecido com seus elogios, tanto ao livro como à minha pessoa, que não darei importância. Esse, aliás, é o tipo de crítica que todo o escritor gosta de ouvir, revise os quês, não se esqueça de por a temporalidade entre vírgulas, não abuse dos advérbios, e, talvez o mais importante de todos os lembretes, como me diz, deixar espaço para o leitor também criar! E, claro, sendo oportuno, estarei com vocês para falar e discutir mais de perto as linhas e entrelinhas de Um elefante em Albany Street. Obrigado e um abraço com votos de um Natal feliz e um Ano novinho em folha para novos encontros e realizações. - Luiz-Olyntho /
www.tellesdasilva.com