São 18 contos fantásticos que exploram situações limite, estranhas, amalucadas, de um surrealismo brutal. Samanta Schweblin descreve as dificuldades de seus personagens em suportar relações, viver em sociedade (e suas reações bizarras). Nas alegorias utilizadas por ela tudo é possível: um trem e uma cidade remetem ao mito de Sísifo; um grupo de mulheres abandonadas se comportam como Bacantes; num bar infernal todas as regras são absurdas; um casal tem a vida transformada em função de visões de pitonisas modernas; um sujeito deprimido alcança boa sorte para todos que se aproximam dele; um pai se rende aos caprichos de uma filha ávida por pássaros; os procedimentos de um parto são invertidos até o ponto em que uma mulher consegue regurgitar um óvulo; um fantasma conta a história de seu vilarejo em troca de cervejas. O abandono, loucura, solidão e inaptidão para o convívio social de seus personagens assusta, pois o leitor lembra que algo parecido (ou até pior) é o que experimenta a maioria de nossos semelhantes no mundo real. São contos realmente perturbadores, muito bem escritos, inspiradores, que escondem no pampa gaúcho (nunca nominado) uma forte presença grega. Seguro que valerá a pena procurar mais coisas desta jovem escritora argentina.
[início: 25/07/2014 - fim: 11/08/2014]
"Pássaros na boca", Samanta Schweblin, tradução de Joca Reiners Terron, São Paulo: Editora Saraiva (selo Benvirá), 1a. edição (2012), brochura 14x21 cm., 223 págs., ISBN: 978-85-64-06530-7 [compilados de duas edições originais: El núcleo del disturbio (Buenos Aires: Editorial Planeta-Destino) 2002 e Pájaros en la boca (Cuba: Editorial Casa de las Américas) 2008]
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