Se lhe cabe nessas festas de final de ano presentear uma pessoa querida (e que goste simultaneamente de culinária e de boa literatura) talvez seja o caso de considerar esse livro da Nina Horta. Quem acompanha suas crônicas semanais na Folha de São Paulo sabe o quão bem ela escreve. Não se trata de uma neófita das letras, uma iniciante dos livros (ainda tenho em meus guardados - e uso - seu "Não é sopa", livro de crônicas e receitas lançado há vinte anos). Em "O frango ensopado da minha mãe" estão reunidas 115 crônicas. Seus assuntos são variados, ela fala do negócio da comida, da alimentação, dos hábitos culinários, da qualidade dos produtos, das memórias paulistas, da perenidade de certas receitas, da gastronomia como fenômeno social, das viagens pelo mundo, faz resenha de livros. Todavia o que torna esse livro especial é a qualidade do texto. Nina Horta faz associações poderosas, cria imagens vívidas de suas experiências, usa um vocabulário rico, cita autores clássicos sem nunca ser pedante. As décadas de experiência em sua empresa de buffet forjaram uma mulher que equilibra bem o humor e a seriedade, partilha sem medo sua sabedoria prática, demonstra ser boa observadora. Em certas crônicas ela está no campo ou na praia e ensina coisas como os passos rápidos para matar e preparar uma galinha; noutras ela está totalmente urbana, senhora dos jogos mundanos, como quando num restaurante sofisticado faz um censo quase cruel dos demais clientes, imaginando suas vidas e pequenas misérias. O livro inclui algumas invenções, bons textos de ficção (Seu "Otelmo" é divertidíssimo, um disfarçado Hamlet mineiro). Divertido.
[início: 09/11/2015 - fim: 11/11/2015]
"O frango ensopado da minha mãe: Crônicas de comida", Nina Horta, São Paulo: editora Schwarcz (Companhia das Letras), 1a. edição (2015), brochura 14x21 cm., 280 págs., ISBN: 978-85-359-2639-2
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