Em "O homem que queria ser rei" Kipling cria um narrador que nos conta a história de dois ingleses, Peachy Carnehan e Daniel Dravot, que empreendem a façanha de tornarem-se reis em um pequeno vale nos confins do Afeganistão. A história se passa na primeira metade do século XIX, quando a Inglaterra já controla e administra os territórios atuais da Índia, Paquistão, Bangladesh e Mianmar. O narrador é um jornalista que encontra por acaso um dos sujeitos ambiciosos em uma viagem de trem. Este o convence a entrar em contato com um seu colega e transmitir-lhe uma mensagem cifrada. Antecipando os riscos envolvidos no planos dos dois sujeitos o jornalista num primeiro momento consegue impedi-los de cruzar a fronteira em direção ao Afeganistão quando alerta as autoridades da presença dos dois aventureiros na região. Os dois posteriormente o procuram na redação do jornal e conseguem dele mapas e informações atualizadas sobre a geopolítica da região. Entediado no tórrido verão indiano e sem notícias importantes para divulgar dessa vez ele se diverte alimentando o mirabolante plano dos dois, já que no fundo pouco acredita em sua viabilidade. Despede-se dos dois quando ambos já estão disfarçados de peregrinos muçulmanos em uma caravana rumo à fronteira. Anos mais tarde, Carnehan, bastante ferido e visivelmente endoidecido, aparece na redação do jornal, conta detalhes de suas aventuras e as circunstâncias da morte de Dravot. Trata-se de uma novela engajada, moral, metafórica, através da qual Kipling denuncia os métodos de dominação inglesa do subcontinente indiano. A história faz várias alusões aos ritos e à simbologia maçônica (Carnehan e Dravot utilizam princípios e técnicas dos maçons para fazerem-se passar por deuses encarnados e submeterem os habitantes do longínquo e miserável vale afegão). A história é movimentada e divertida. Lembro-me de ter visto uma versão cinematográfica dela em meados dos anos 1970 (Sean Connery no papel de Dravot e Michael Caine no de Carnehan, John Houston assinou a direção do filme). Esse livro faz parte de uma coleção de histórias curtas (A arte da novela, da Grua Livros, originalmente produzidas pela Melville House Publishing, da qual já li "A briga dos dois Ivans", "A lição do mestre", "O colóquio dos cachorros", "Michael Kohlhass" e "O véu erguido").
[início: 02/12/2015 - fim: 03/12/2015]
"O homem que queria ser rei", Rudyard Kipling, tradução de Sérgio Flaksman, São Paulo: Grua livros, 1a. edição (2015), brochura 13x18 cm., 74 págs., ISBN: 978-85- 61578-49-7 [edição original: The Man Who Would Be King / The Phantom 'Rickshaw and Other Eerie Tales (Allahabad/India: A.H. Wheeler and Co. of Allahabad) 1888]
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