quarta-feira, 15 de julho de 2020

no me cogeréis vivo

"No me cogeréis vivo" é um volume onde estão reunidos 167 artigos de Arturo Pérez-Reverte publicados originalmente em jornal (na coluna Patente de Corso do caderno XL Semanal), entre setembro de 2001 e julho de 2005. Esse período corresponde aos últimos anos do governo Aznar e os primeiros do governo Zapatero. Não preciso aqui repetir meu costumeiro entusiasmo  com a excelência de tudo que Pérez-Reverte publica (já falei sobre três volumes de artigos dele: "Una história de España", "Perros y hijos de perra" e "Los barcos si pierden en terra"). Pérez-Reverte fala do cotidiano espanhol, de política, das transformações pelas quais passa a Europa, seu país e suas fundamentais Madrid e Cartagena. Fala de questões filológicas e de la lengua espanhola, discutidas nas reuniões das quintas-feiras na Real Academia Espanhola, de questões náuticas, dos livros que lê, dos políticos e das muitas coisas estúpidas ditas pelos políticos. Comenta sobre a estupidez reinante dos hipócritas e canalhas que defendem ideias ditas politicamente corretas; sobre os censores de costumes e de comportamento; sobre questões ambientais. Louva indivíduos que o influenciaram, o educaram, as exposições que viu, as viagens que fez, os encontros que teve com amigos e de sua experiência como jornalista em conflitos bélicos. Com ele caminhamos pelo bairro de las letras de Madrid, vamos a restaurantes, lembramos de Cervantes, Quevedo, Góngora, Calderón de la Barca, de Lope de Vega. Ele faz brotar da infância sua admiração pelas histórias dos romanos, dos gregos, dos árabes de sua península. Com ele vamos aos portos, aos mercados, aos cafés, ao cinema, a lugares ermos e perigosos das cidades que ele visita. Suas crônicas/artigos/ensaios se distinguem de material comum, aquele que notadamente encontramos em jornais brasileiros, pois é notável sua coragem intelectual, sua capacidade de denúncia fundamentada, à quaisquer grupos ou indivíduos que mereçam sua atenção. Não se trata de ser um simples paladino de boas causas ou malabarista de palavras. Seu afiado senso de justiça, sua capacidade de saber dosar argumentação lógica com sonoros palavrões (que deixariam o coro purista e hipócrita de jornalistas brasileiros corados - e prontos para denunciá-lo nos tribunais de exceção de inspiração fascista que vicejam por aqui nestes podres dias de pandemia), tornam a leitura das quase 200 crônicas uma alegria, dias de genuíno prazer e educação. Pérez-Reverte não tem medo de ridicularizar quem quer que seja, desde o tonto mal educado que viaja a seu lado em um avião, até os ministros de governo, tão servis à programas políticos inúteis, contaminados por ideologias que alcançam o patético, quando não apenas servem para corrupção e desvio de dinheiro público. Seu colega articulista, Javier Marías - el perro inglés, ganha um punhado de citações, sempre bem humoradas, corteses, fraternais. ÔBeleza. Sorte que tenho ainda uns volumes de Pérez-Reverte escondidos nos guardados. Vale! 
Registro #1553 (crônicas e ensaios #275) 
[início: 11/02/2013 - fim: 01/07/2020]
"No me cogeréis vivo: artículos 2001-2005", Arturo Pérez-Reverte, Madrid: Punto de Lectura (Santillana ediciones generales / Penguin Random House Grupo Editorial), 1a. edição (2005), brochura 12,5x19 cm, 605 págs. ISBN: 978-84-663-1891-4

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