sábado, 14 de novembro de 2020

o livro dos hai-kais

Sempre que mergulhava em doce mel, nos dias em que lia e via o belo livro/homenagem à Massao Ohno, escrito por José Armando Pereira da Silva e publicado pela Ateliê, sobre o qual já falei aqui, eis que consultava meus guardados para tentar achar um ou outro dos volumes editados por ele. Alguns brotavam fáceis, outros tive que investir tempo e paciência para encontrar. Na estante da poesia achei esse belo volume de 1980, que eu comprei na verdade muitos anos depois, ainda nos meus tempos paulistas. A edição inclui, além de poemas de Matsuo Bashô, Kobayashi Isssa e Yosa Buson, sobre os quais falarei mais abaixo, alguns mimos preciosos: (i) um curto ensaio de Octavio Paz, que trata da definição de hai-kais/haikus (que nos ensina ser esta forma poética um arranjo em que três versos de 5, 7 e novamente 5 sílabas compõem uma estrofe e que devem equilibrar uma parte descritiva, enunciativa (temporal e espacialmente falando) com uma parte ativa (relampejante, nas palavras de Paz); uma introdução, assinada por Osvaldo Svanascini, que também trata de explicar as funções poéticas desta forma; algumas boas notas e uma curta, porém fundamental, bibliografia sobre o assunto. São 151 poemas, traduzidos pela também boa poeta carioca Olga Savary, que morreu neste ano das pragas, 2020, ai de nós. Cada conjunto deles é ilustrado por um desenho colorido de Manabu Mabe. Curtas biografias dos três grandes poetas japoneses (que percorrem do século XVII ao século XIX) contextualizam algo da produção de cada um deles. Já falei aqui sobre os milhares de haikus que li de Issa e Bashô, em robustas e maravilhosas edições da Assírio & Alvin. De Buson só havia lido uns poucos, em uma antologia deles, traduzidos por Sérgio Medeiros. Na antologia de Olga Savary (que traduziu os poemas a partir de versões em inglês, francês e espanhol, não diretamente do japonês) encontramos uma pequena mostra de como pode-se encontrar deleite em pequenos objetos, neste encantador livro-arte. Bashô, Issa e Buson falam dos dias, dos espantos, do imanente, do belo, da magia do mundo. ÔBeleza. Só um último registro. Esse volume foi publicado em 1980, em uma edição de 3000 exemplares. Grande Massao Ohno, que editor teria a coragem de fazer algo assim nestes dias aziagos em que vivemos? Vale! 
Registro #1588 (poesia #137)
[início: 25/09/2020 - fim: 14/10/2020]
"O livro dos hai-kais", Bashô, Buson, Issa, tradução de Olga Savary, São Paulo: Massao Ohno/Roswitha Kempf, 1a. edição (1980), brochura 14x21 cm., 134 págs., sem ISBN

Nenhum comentário: