sábado, 6 de abril de 2019

aqueles que queimam os livros

George Steiner é um respeitável e venerável professor  inglês, vinculado à muitas vezes centenária Universidade Cambridge, na Inglaterra. Os três ensaios reunidos neste pequeno volume foram publicados originalmente em 1999 e 2000. "Aqueles que queimam livros" reúne reflexões sobre o processo de construção, criação, invenção de poesia e ficção, contrastadas ao processo de recepção destes mesmos textos pelos leitores. Para ele os livros são objetos mágicos, que materializam o engenho humano, nossas percepções, nosso ser. São capazes de aprisionar indivíduos nas mais cruéis escravidões  mentais ou  libertá-los das mais perversas masmorras e ditaduras. O acaso cósmico do encontro entre uma obra e um leitor também é algo muito subestimado. Dentre infinitos mundos possíveis existe aquele vivido entre um sujeito, sociedade ou país e uma única obra literária, aquela que transformará esse sujeito, sociedade ou país. No segundo ensaio, "Povo do livro", ele digressa sobre a singularidade da cultura judaica, de como brota do amor às palavras e aos livros a força e identidade de todo aquele povo, religião e notável país que é Israel. A sobrevivência dos judeus só se explica por uma irresistível sede de saber e do contínuo exercício intelectual. No terceiro e ultimo ensaio, "Os dissidentes do livro", faz-se um contraponto ao anterior, argumentando sobre a desumanização de quem é enredado nas formas puras de pensamento, no hedonismo dedicado aos livros e a leitura. A alta cultura humanística por si só não é capaz de impedir o triunfo da barbárie, nossa redução aos instintos mais básicos e perversos, aos atos mais cruéis e condenáveis. Só uma adestrada consciência moral pode conter minimamente a paixão pelos livros. Esse livro parece conversar com o que registrei aqui há poucos dias, o bom "Lições de poética", de Paul Valéry. Vale! 
Registro #1371 (crônicas e ensaios #246) 
[início 26/01/2019 - fim: 29/01/2019] 
"Aqueles que queimam livros", George Steiner,  tradução de Pedro Fonseca, Belo Horizonte: Editora Âyiné (coleção Biblioteca Antagonista #16), 2a. edição (2018), brochura 10,5x15 cm., 91 págs., ISBN: 978-85-92649-21-0

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