quinta-feira, 7 de maio de 2020

a carta esférica

"A carta esférica" foi publicado originalmente há vinte anos. Trata-se de uma fantasia, um longo romance onde o autor oferece ao leitor a atmosfera típica das histórias de piratas, de tesouros enterrados, de mocinhos e bandidos, histórias que costumávamos todos a ler quando criança, quando imergíamos no mundo mágico da literatura. Pérez-Reverte rende homenagem a seus heróis literários quando o assunto é marinharia e navegação: Robert Louis Stevenson, Joseph Conrad, Patrick O'Brian e Herman Melville (além do cartunista Hergé, das histórias de Tintim, e do detetive Philip Marlowe, personagem de Raymond Chandler). Acompanhamos como Manuel Coy, um marinheiro mercante desempregado, por curiosidade e também por saudades do mar, envolve-se com Tánger Soto, uma mulher obcecada pela busca de um barco espanhol do século XVIII, afundado ao largo da costa de Cartagena, na Espanha. Todos os clichês possíveis das histórias de piratas e de detetives estão presentes na trama: mapas cifrados, acasos mirabolantes, cigarros fumegantes, mulher misteriosa e sedutora, brigas em becos escuros, segredos, jazz, cavalheirismo, caçadores de tesouros, amizade, personagens caricatos, rivais violentos, traições. Todavia, surpreendentemente, a narrativa é mesmo poderosa e prende o leitor. Pérez-Reverte demonstra todo seu virtuosismo, seu conhecimento náutico, com descrições precisas de como se manejava barcos no passado (e também hoje, com o auxílio de tecnologias modernas). Coy conhece Tánger em Barcelona, e por impulso a segue - como os marinheiros seguiam as sereias - por Madrid, Cádiz, Gibraltar, Cartagena e o Mar Mediterrâneo. Contar detalhes destas deambulações, desta busca, roubaria uma miríade de prazeres do leitor. Aprendemos um bocado, sobre história da Espanha, história dos jesuítas, navegação, geografia das cidades espanholas e os hábitos de seus cidadãos. Enfim, diversão garantida. Cabe sempre lembrar que vale a pena ler as crônicas de Pérez-Reverte dedicadas ao tema do Mar (reunidas em Los barcos se pierdem em tierra, por exemplo) ou qualquer uma de suas crônicas semanais (clika1!), sobretudo essas duas (clika2! e clika3!), dedicadas a Paco, el Piloto, um amigo real de Pérez-Reverte, homenageado no livro. Vale!
 Registro #1525 (romance #378)
[início: 15/04/2020 - fim: 23/04/2020] 
"A carta esférica", Arturo Pérez-Reverte, tradução de Rosa Freire d'Aguiar, São Paulo: editora Schwarcz (Companhia das Letras / Penguin Random House), 1a. edição (2001), brochura 14x21 cm., 530 págs., ISBN: 85-359-0124-8 [edição original: La carta esférica (Madrid: Alfaguara) 2000]

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