quinta-feira, 28 de maio de 2020

sardenha como uma infância

Esse pequeno livro conduz o leitor para uma viagem de sonho, compartilha conosco impressões e reflexões ricas, nos convida à liberdade, à vida. Todavia o autor implicitamente nos faz lembrar que nenhuma experiência é verdadeiramente partilhável, que apenas cada um de nós, a cada vez, a cada tempo, é capaz de aceitar - ou não - passar por uma educação sentimental autêntica, deixar-se viajar sem medo, bem observar, interagir dignamente com o novo, com aquilo que inexiste em nosso cotidiano. Elio Vittorini, escritor, crítico e tradutor italiano, viveu na primeira metade do século XX. Foi também um ativista, um militante antifascista, mas é realmente respeitado pelas inovações formais que introduziu na literatura italiana de seu tempo. "Sardenha como uma infância" é um relato de viagens, porém, é também uma narrativa muito inventiva, que ecoa uma visão de mundo entre sofisticada e ingênua: o desejo de que a felicidade não seja um período de férias entre privações e sofrimentos do cotidiano, antes sim a condição natural de todos os homo sapiens. Publicado em 1932, em uma revista literária de Florença, o texto original concorreu a um prêmio de melhor relato de viagens à Sardenha (Vittorini dividiu o prêmio com um sujeito chamado Virgilio Lilli). Um grupo de jovens (Vittorini nasceu em 1908) é levado à Sardenha por algumas semanas. Quase todos são jornalistas, que viajam em grupo, usando todos os meios de transporte disponíveis na ilha, hospedando-se ao azar das circunstâncias, sem culpa ou itinerário. A maioria das cidades da ilha são visitadas. São cidades antiquíssimas, criadas pelos povos da cultura Nurágica (os sardos originais do período neolítico, descendentes de fenícios, de egípcios, de turcos?, ninguém sabe ao certo), e mil vezes dominadas por gregos, cartagineses, romanos, sarracenos, catalães, franceses. O grupo consegue lugar em um navio de cabotagem e faz também a circum-navegação da ilha, parando em cada cidade portuária, sem pressa, ao sabor dos ventos e das marés. Vittorini produz 43 curtos relatos, onde natureza em sua potência e os vestígios da passagem dos homens são contrastados. Alguns parecem contos, invenções, já outros são instantâneos de uma descoberta, de uma reflexão, de um aprendizado. O livro inclui também um poema intitulado "Nei morlacchi", um louvor a um povo/grupo étnico dos Bálcãs (os Morlacchi), que lembra o "Del Natural", de W.G. Sebald. Esse volume faz parte de uma coleção da Cosac Naify que inclui pequenas narrativas de viagens de Jean-Paul Sartre, Joseph Brodsky, Le Corbusier e Elias Canetti. Segue o baile. Vale! 
Registro #1534 (perfis e memórias #96) 
[início: 06/04/2020 - fim: 08/05/2020]
"Sardenha como uma infância", Elio Vittorini, tradução de Maurício Santana Dias, São Paulo: editora Cosac Naify (Coleção Companheiro de viagem), 1a. edição (2011), brochura 15,5x19 cm., 128 págs., ISBN: 978-85-7503-964-9 [edição original: Sardegna como un'infanzia / Viaggio in Sardegna (Florença: L'Italia Letteraria) 1932]

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