De Luiz Felipe Pondé já havia lido "Contra um mundo melhor: Ensaios do afeto", livro marcadamente autobiográfico, interessante e poético na medida certa. Esse "A Filosofia da adúltera: Ensaios selvagens" é dedicado a reflexões sobre o pensamento de Nelson Rodrigues. Não se trata de uma análise crítica e/ou literária de toda a obra de Nelson, mas sim reflexões pontuais sobre o uso dramatúrgico da mulher adúltera em sua obra, bem como dos desdobramentos deste (digamos assim) arquétipo, na sociedade brasileira contemporânea. Pondé fala sobre democracia e ciências sociais, sobre política e educação, sobre mídia e cultura, sobre feminismo e sexo. Enfim, seu livro se equilibra entre o jornalismo de costumes e a filosofia, usando a mulher adúltera como representação da condição humana, da escravidão mental, do tédio da repetição, da tristeza da mentira social. Trata-se de um livro pequeno, formado por capítulos curtos, que se não são aforísticos, ao menos tendem a clareza e a concisão. O livro inclui várias fotografias de mulheres em poses fetichistas, sensuais, típicas dos anos 1950 ou 1960, uma provocação explícita às convenções do mundo politicamente correto. Pondé pergunta menos do que afirma, do que responde. Ele não se preocupa em convencer ou justificar completamente para o leitor as suas verdades (ou as verdades que parece extrair dos livros de Nelson Rodrigues). De qualquer forma ele alcança fazer o leitor pensar sobre temas que por demasiado óbvios nos escapam na correria dos dias. Num país como o Brasil, onde praticamente ninguém pensa com independência, preferindo repetir mecanicamente idéias prontas dos outros (de políticos, jornalistas, professores, religiosos e outros farsantes) pessoas como Pondé são normalmente classificadas como politicamente incorretas, quando não achincalhadas com dureza. Não é o meu caso. Gosto de seu estilo. Ele não é hipócrita ou tenta seduzir o leitor com argumentos dúbios. Tampouco tem medo em nos lembrar que tudo o que está ou não institucionalizado no Brasil, das regras de conduta que aceitamos aos juízos de valor que praticamos, certamente irá se esgarçar, piorar, destruir-se até, e muito, muito mesmo, antes de melhorar. Diminuir um tanto o pântano em que vivemos deveria ser a ambição genuína dos jovens brasileiros, caso eles tivessem interesse em viver no futuro em um país menos patético, tosco e ridículo como o Brasil é hoje, mas, paciência, o desejo, até esse meu, é sempre triste.
[início: 16/11/13 - fim: 19/11/13]
"A filosofia da adúltera: Ensaios selvagens", Luiz Felipe Pondé, São Paulo: editora LeYa, 1a. edição (2013), brochura 16x22,5 cm., 190 págs., ISBN: 978-85-8044-862-7
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