A equação que Celso Dias apresenta nesses treze contos parece sempre ser simples. Ele parece falar de coisas que conhece bem, coisas de seu ofício e experiência, ou parece se valer de memórias da infância e/ou juventude que experimentam bem a metamorfose para a ficção, pois geram narrativas realmente boas, curiosamente boas. São histórias curtas, histórias de gente jovem, que testa os limites do mundo; histórias de gente mais velha, que apenas suporta os aborrecimentos da decrepitude; histórias de gente madura (ou com saudades da juventude ou, pior ainda, temerosa da velhice), sujeitos que vivem suas pequenas tragédias pessoais com assombro, nunca com estoicismo. Na falta de bom humor o leitor encontra alívio na fina ironia que habita cada uma delas, já que o narrador de Celso sempre é duro, quase cruel, e nunca se deixa contaminar pelo desejo fácil de encontrar um final feliz para seus personagens. Esse narrador não faz juízos de valor, não condena os fracos, nem exalta os virtuosos, apenas descreve os pequenos recortes de suas vidas, vidas de gente que sofre e ama, que chora e ri. Bom livro, que encontrei por puro acaso na última feira do livro de Porto Alegre. Há dias em que mesmo uma musa ausente se lembra de soprar novidades nos ouvidos deste velho e cansado amigo dos livros. Cousa boa.
[início: 09/11/2013 - fim: 27/11/2013]
"O homem que fumava dois cigarros de uma só vez", Celso Dias, Porto Alegre: editora Pradense, 1a. edição (2013), brochura 14x21 cm., 75 págs., ISBN: 978-85-8294-004-4
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