segunda-feira, 29 de junho de 2020

donde todo ha sucedido

Já contei aqui como descobri perdidos em meus guardados dois livros de crônicas do Javier Marías. Um deles era uma antologia de textos sobre futebol, "Salvajes y sentimentales", que já registrei aqui. O outro é "Donde todo ha sucedido", textos sobre cinema, sobre os quais falo agora. São 63 crônicas, publicadas originalmente em jornais, entre 1993 e 2004, e já reunidas em livro anteriormente. O interessante da releitura destas crônicas, no meu caso, é receber de uma só vez o impacto das impressões dele sobre este assunto. Quem já leu algum romance de Javier Marías sabe o quão influenciados pelo cinema eles são. O primeiro deles, "Los domínios del lobo", é uma colagem brutal de cenas cinematográficas, que emulam os filmes americanos que retratam o período que vai da guerra civil, no século XIX, até a grande depressão, nos anos 1930. Em todos os demais é comum encontrarmos alguma reflexão ou memória de uma cena de um determinado filme ou seguir a narrativa, pelos personagens de seus livros, dos atos de algum ator, num contraste sempre especial. Marías fala sobre questões técnicas de apreciação, o papel do cinema em sua geração de escritores e de seus filmes favoritos (que é uma coisa de momento, cambiante), mas que à época destas reflexões sobre cinema ele afirma serem The River, de Jean Renoir; The Man Who Shot Liberty Valance, de John Ford; Campanadas a medianoche, de Orson Welles; The Ghost and Mrs. Muir, de Joseph L. Mankiewicz; The Life and Death of Colonel Blimp, de Michael Powell e Emeric Pressburger; Singin' in the Rain, de Stanley Donen e Gene Kelly; North by Northwest, de Alfred Hitchcock; The Apartment, de Billy Wilder; The Wild Bunch, de Sam Peckinpah; The Dead, de John Houston. Escreve bastante sobre John Ford e sobre Orson Welles, seus diretores favoritos. Gostei particularmente de uma crônica sobre Leni Riefenstahl; outra sobre o dia em que dividiu uma mesa de bar madrileña com Hanna Schygulla; ainda outra sobre a influência de um tio seu, cineasta algo maldito, chamado Jesús Franco. Javier Marías fala sobre os grandes temas do cinema (que também são os grandes temas literários): a liberdade, a morte e a dor, o ódio e o amor, o ressentimento e o orgulho, a lei, a justiça e a maldade, a renúncia e a força. Também fala da política, sociedade, boa educação e questões de seu tempo. Nunca me canso de ler o que produz esse especial escritor, já se sabe. Vamos em frente. Vale! 
Registro #1547 (crônicas e ensaios #274) 
[início: 10/06/2020 - fim: 13/06/2020]
"Donde todo ha sucedido: Al salir del cine", Javier Marías, edicíon de Inés Blanca y Reyes Pinzás, Barcelona: Galaxia Gutenberg (Círculo de Lectores), 1a. edição (2005), capa-dura 13x21 cm., 286 págs., ISBN: 978-84-8109-513-3

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