quinta-feira, 11 de junho de 2020

salvajes y sentimentales

Ao tentar arrumar meus guardados, cansado, nestes dias canalhas de pandemia, eis que descubro que não havia lido ainda dois volumes de artigos de Javier Marías. Um deles é esse "Salvajes y sentimentales", onde estão reunidos 72 artigos, publicados originalmente entre 1992 e 2010. A bem da verdade eu já havia lido boa parte deles, quando enfeixados nos volumes em que Marías reúne suas contribuições em jornal a cada dois anos (clika!: Javier Marías). Todavia, neste volume em especial há vários textos que foram produzidos por encomenda, para livros que rendiam homenagem à efemérides do Real Madrid ou do Barcelona, e também escritos para encartes especiais dedicados a cobertura da Copa do Mundo de futebol de 1994. Como tudo que Javier Marías produz os artigos são exemplares, tanto pela técnica literária e argumentativa quanto por conta dos efeitos que provoca no leitor, convidando-o a refletir sobre uma miríade de assuntos. Bom observador e juiz de caráter, Marías sabe destacar nos artigos a dimensão dramática do jogo ("En este juego, si no hay drama no hay nada"); as infinitas possibilidades de interpretação da qualidade e/ou resultado de uma partida ("Como con las traducciones, uno se pregunta cómo una partida puede ser tan distinta según el intérprete, y sin embargo la misma"); o impacto social do jogo ("Ser aficionado al fútbol y a algun que otro deporte no me impide darme conta del carácter enfermizo y perverso que afecta y rige a ese mundo, que tal vez refleja mejor que ningún otro el descabezado espíritu competitivo que domina cada vez más nuestras sociedades"); o porco papel dos dirigentes esportivos ("Si para seguir el fútbol hay que ver a menudo a estos sujetos broncos, será cuestión de ir pensando en quitarse"); a nefasta ligação entre políticos e futebol, quase uma usurpação (canalhas como Havelange, Blatter, Berlusconi e tantos outros são vergastados sem dó); as sadias provocações cruzadas com outros aficionados (Juan García Hortelano, inolvidable colchonero; Manuel Vázquez Montalbán, culé de leyenda);  a ligação do esporte com a euforia e alegrias da infância; o fato das alegrias e vitórias passadas não poderem mitigar a angústia das derrotas de hoje, do presente. De tempos em tempos, rende homenagens a seu santo particular, o argentino Alfredo Di Stéfano, que jogou no Real Madrid, entre 1953 e 1964. A seleção e edição dos artigos foi feita por Paul Ingendaay, um jornalista alemão. Foram publicados neste formato primeiro na Alemanha, país onde os livros de Marías são muito apreciados, para depois ganharem edição na Espanha. Livro bacana, mesmo para um sujeito quase avesso ao futebol, como eu. Vale! 
Registro #1540 (crônicas e ensaios #272) 
[início: 26/05/2020 - fim: 31/05/2020]
"Salvajes y sentimentales: Letras de fútbol", Javier Marías, Madrid: Alfaguara (Grupo Santillana de ediciones / Penguin Random House Grupo Editorial), 1a. edição (2010), brochura 15x24 cm, 317 págs. ISBN: 978-84-204-0536-0

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