sexta-feira, 26 de junho de 2020

trece fábulas y media y fábula decimocuarta

Neste pequeno volume encontramos curtas fábulas sem moral, fábulas para gente grande, fábulas que antes provocam reflexão e não se limitam a uma única interpretação. O que está em jogo sempre é o comportamento humano; nossa capacidade de produzir maravilhas e misérias; a realidade de coabitarem em nossa psique, de ocuparem nosso corpo, tanto a dignidade quanto a impostura. Somos sim, maldita gente má. Há sempre um fragmento de frase destacado nas quatorze histórias que compõe o livro. Este fragmento ilumina aquilo que será brevemente desenvolvido nelas, assim como as colagens reproduzidas em preto e branco, assinadas por Emma Cohen (uma conhecida atriz espanhola, já morta). Como em um exercício de psicanálise, o impacto das curtas histórias provocam o leitor a interpretar ou a revelar algo de si naqueles bizarros acontecimentos. Os protagonistas de Juan Benet vivem vários dos conflitos típicos dos homo sapiens: são personagens que delegam à terceiros o seu destino; vivem de aparência e hipocrisia; se iludem com afazeres ridículos, insignificantes; esperam o acaso, e também o nada; flertam com a morte, escravos de desejos e sua ambição; são hedonistas e fracos. Algumas das fábulas têm inspiração bíblica (como a história de Abraão e Isaac, invertida, transformada em uma quase piada íidiche) ou brotam das histórias das mil e uma noites (uma releitura do encontro em Samarra, genial). Se há um personagem que paira sobre todas elas este é a morte, mas Benet sempre zomba dela e de sua onipotência. Enfim, trata-se de um pequeno livro cheio de inspiração e virtuosismo. Lembrei, a ler velhas anotações que havia feito no volume, que este foi um presente de don Manuel Vázquez, em 1998, quando a vida parecia mais fácil, sem limites. Que saudades de don Manolo, grande Manolo, e que grande autor é don Juan Benet, por supuesto!. Vale! 
Registro #1546 (contos #179) 
[início - fim: 02/06/2020]
"Trece fábulas y media y Fábula decimocuarta", Juan Benet, Madrid: Alfaguara (Grupo Santillana de ediciones), 1a. edição (1998), brochura 15x24 cm, 125 págs. ISBN: 84-204-8375-3

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