Rogério Koff apresenta, em seu "O encantamento dos sentidos",
uma análise detalhada de um texto de Edmund Burke (que foi filósofo,
político - membro do parlamento inglês - e escritor, nascido na Irlanda,
em 1729, e morto na Inglaterra, em 1797). Este texto, On the Sublime and Beauty ("Investigação filosófica sobre as origens de nossas ideias do sublime e da beleza", em português), foi publicado em meados do século XVIII, quando Burke tinha menos de 30 anos. O texto que Koff nos oferece é acadêmico, formal e rigoroso, porém escrito de maneira acessível, mesmo para um neófito sobre o tema (como eu, por supuesto).
Para alcançar oferecer ao leitor suas reflexões sobre este assunto,
Koff, divide o livro, após uma curta seção de apresentação, em três capítulos de
quase idêntica extensão. O primeiro capítulo trata da vida e obra de Burke e
poderia, a meu juízo, ser lido de forma independente, ou melhor, acredito que o
leitor interessado apenas na questão sobre o sublime e a beleza poderia
ler diretamente os dois seguintes. Neste primeiro capítulo aprendemos
sobre os anos de formação de Burke; seus interesses anteriores a imersão
no mundo político, que se materializaram em livros sobre teoria política (A Vindication of Natural Society: or, a View of the Miseries and
Evils arising to Mankind from every Species of Artificial Society, publicado em 1756) e sobre estética (On the Sublime and Beauty,
de 1757); acompanhamos as circunstâncias de sua guinada para carreira política em 1761, ainda em Dublin, e
depois, quando já radicado em Londres, tornar-se secretário do Primeiro-Ministro
inglês à época, Charles
Watson-Wentworth, marquês de Rockingham. Após esta época, quando Burke assume
completamente essa sua persona política, ele passa a escrever apenas sobre as
questões políticas de seu tempo (tanto sobre as complexas e delicadas relações entre
Inglaterra e suas colônias: a Irlanda, a américa colonial e continente
indiano, quanto, sobretudo, produzindo sua obra Reflexões sobre a revolução na França,
que é de 1790, e é onde ele antecipa os excessos que levariam a revolução
francesa a seu colapso, texto pelo qual é mais conhecido e respeitado).
É no segundo capítulo que Koff trata propriamente do texto de Burke que lhe
interessa (On the Sublime and Beaut).
Aprendemos que Burke, com este texto, participa do debate sobre
estética, onde se propõe transgredir tanto a idealização ou
racionalidade platônica da beleza (vista como a forma/ideia perfeita,
verdadeira) quanto o conceito de "elevação da mente", de um texto sobre o
sublime, escrito provavelmente no século II e atribuído a um sujeito
chamado Longinus. Pois Burke sugere a necessidade de uma nova categoria
para o conceito de estética, que se distingue - e transcende - o
conceito de beleza, apesar de ambas terem como origem as mesmas paixões
humanas. Não são questões ligeiras, que me caberia resumir aqui (não
tenho formação de filósofo, já se sabe). O
leitor precisa investir um certo tempo para aprender a aplicação de
vários conceitos filosóficos utilizados e entender também o contexto
histórico da
evolução destes temas. Já no terceiro capítulo (e também em uma curta
seção de considerações finais), Koff estende as reflexões
do capítulo anterior, apresentando a repercussão, metamorfoses e
rupturas
do conceito de sublime ao longo do tempo - desde a antiguidade,
passando pelo neoclassicismo, romantismo e outros ismos - até sua
substituição pelo
conceito de expressão, no mundo contemporâneo das artes plásticas. Koff
incorpora neste capítulo e nas considerações finais breves ideias de
Boileau, Locke, Doran, Hume, Kant,
Schiller, Goethe, Gombrich, Norman, Paglia, Greenberg, Scruton, Kirk,
Freud, Peirce, Chama e Pereira Coutinho. Fala também, ou melhor, reflete algo, sobre o
papel da experiência estética (da teoria estética de Burke) em ambientes
externos às artes plásticas, como na esfera política por exemplo, ou
melhor, no entendimento
de fenômenos sociais e políticos, onde a sabedoria, e a consciência de
nossas imperfeições, derivadas do debate sobre estética, sobre a beleza e
o sublime, parecem poder nos capacitar melhor para entender de fato a
realidade objetiva. Nas considerações finais, Koff fala também da
ascensão de Burke como eventual patrono do conservadorismo moderno. O
livro inclui uma apresentação assinada por Robson Pereira Gonçalves e um
texto de apoio nas orelhas e contracapa, assinado por Luiz Rohden,
leitores de primeira hora. Além
disto, o livro inclui duas dezenas de reproduções coloridas de
pinturas. Essas reproduções dos quadros são utilizados por Koff para
ilustrar como vários conceitos associados aos de Sublime e de Beleza
podem ser exemplificados neles. A inserção destas imagens me incomodou
um tanto. Apesar da descrição de todas elas estar incorporada ao texto
de alguma forma, não resta claro se de fato, os artistas, os artífices
das obras, racionalmente, conscientemente ou por leituras, conheciam
e/ou entendiam tais conceitos ao expressarem-se plasticamente nelas.
As paixões ou instinto dos artistas me parecem estar além de qualquer enquadramento filosófico. Mas isso pode
ser um defeito de leitura meu. Paciência. Parabéns don Rogério, grande
abraço, gostei de ler esse teu belo livro. Segue o baile. Vale!
Registro #1543 (ensaios #273)[início: 15/05/2020 - fim: 10/06/2020]
"O encantamento dos sentidos: O sublime e a beleza na teoria estética de Edmund Burke", Rogério Ferrer Koff, Santa Maria: Editora UFSM, 1a. edição (2020), brochura 14x21 cm, 176 págs. ISBN: 978-85-7391-346-0
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