Lançado em 2006, durante a 30a. edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, "Ainda temos tempo" reúne quinze histórias assinadas pelo industrioso Leon Cakoff. São antes causos que crônicas, antes registros de viagens e aventuras que ensaios sobre cinema, sua grande paixão. Cakoff morreu em outubro, às vésperas da 35a edição da Mostra que ele idealizou em 1977. Meses antes eu havia lido na Folha de São Paulo um relato corajoso seu dando conta dos aborrecimentos decorrentes da descoberta de um câncer no cérebro e da arriscada intervenção cirúrgica pela qual ele havia passado. O texto oferecia conforto e solidariedade a todos que padecem de algum mal, mas também tinha alguma ironia e sarcasmo (de fato não há porque ser auto-indulgente ao nos confrontar-nos com a morte). "Ainda temos tempo" é irregular, mas gostoso de ler. Cakoff devia estar acostumado a contar esses causos aos amigos, mas algo da graça das histórias se perdeu ao serem fixadas em livro. Cakoff, que formou-se em sociologia, é generoso em interpretar o que vê nos países que visita, mas não é nem definitivo, nem professoral. Nos solidarizamos com ele quando um casal de jovens franceses rouba seu dinheiro, sentimos alívio quando um burocrata russo o libera para voltar a Alemanha, aprendemos a valorizar o tempo que dedicamos aos prazeres. Seu senso de liberdade é algo marcante, invejável. Ele não tem medo de apontar o dedo para os reis nus das tiranias, do comunismo e do fascismo, da hipocrisia e da mentira. Ao mesmo tempo sabe contar as coisas boas, os encontros e passeios com amigos, o aceno cúmplice a um desconhecido, o copo de vinho dividido com aqueles que ouvem suas histórias. Há pessoas que não precisamos conhecer pessoalmente para admirar. Ele deve ter sido um grande sujeito. O livro inclui um prefácio generoso de Carlos Reichenbach. Nota breve: Acho que este é o primeiro exemplar de um livro da Cosac Naify que encontrei realmente mal editado. Claro, pode se tratar de algo requentado por conta da morte do autor, paciência, mas além do fato da capa estar mal colada, as ilustrações, que são bonitas, mais poluem que deleitam o leitor. [início 21/10/2011 - fim 21/11/2011]
"Ainda temos tempo", Leon Cakoff, São Paulo: editora Cosac Naify, 1a. edição (2006), brochura 13,5x20 cm, 176 págs. ISBN: 85-7503-556-8
"Ainda temos tempo", Leon Cakoff, São Paulo: editora Cosac Naify, 1a. edição (2006), brochura 13,5x20 cm, 176 págs. ISBN: 85-7503-556-8
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