Apesar do título e da irônica apresentação à edição brasileira assinada pelos editores da Casa da Palavra, não acho que esse seja exatamente um livro de ensaios, onde são defendidos determinados pontos de vista ou idéias (como no caso, algo sobre o funcionamento do mercado editorial). Acho que o livro funciona como a boa autobiografia que é, isso sim. André Schriffin é hoje um sujeito de quase ointenta anos, foi editor poderosíssimo nos anos 1960 e 1970, na respeitada editora Pantheon, à época parte do grupo Random House. O que ele descreve em seu "O negocio dos livros" é a ascenção e queda da Pantheon, fundada por seu pai e alguns sócios ainda no início dos anos 1940, sua inserção nela ainda muito jovem, a transformação dela em uma referência na área (livros de política, economia, sociologia, educação), a história de seu afastamento forçado em 1980 e a criação da New Press, sua editora "sem fins lucrativos". Ao descrever a Pantheon ele fala dos hábitos de leitura, do papel dos livros e da livre discussão de idéias no século XX. Claro, há longas sessões onde Schiffin detalha o processo das sucessivas e agressivas aquisições pelo qual passou o mercado dos livros, até a configuração atual, onde cinco grandes grupos monopolizam 95% das vendas no mercado americano. Para o leitor curioso esses grupos são: Time Warner, Disney, Viacom/CBS, Bertelsmann e News Corporation. O que um sujeito pode acreditar ser uma editora é na verdade parte de um mosaico de marcas de fantasia, selos editoriais, que convergem à um conjunto pequeno de conglomerados. Como esses mesmos conglomerados controlam os demais segmentos midiáticos (jornais, revistas, radios, emissoras de televisão, cinemas, internet, publicidade), o controle das idéias é quase automático. Schiffrin fala basicamente de livros de não-ficção e do mercado americano, mas a situação da literatura de ficção e das editoras em todo o mundo não deve ser muito diferente. "O negócio dos livros" é muito bem escrito, informativo, objetivo e elegante, funciona como uma espécie de thriller literário. Schiffrin apresenta muitos dados brutos sobre o mercado editorial, exemplifica e apresenta sugestões para o futuro. Como o livro foi publicado originalmente em 2000 (e em 2006 em português), Schiffrin é prudente em avaliar o impacto da tecnologia digital na produção e comercialização dos livros, mas todas as afirmações que faz antecipam o que hoje percebemos claramente como realidade (discussões sobre autoria, a questão do copyright, do acesso a internet, da edição e distribuição on-line de livros). Bom livro. [início 11/11/2011 - fim 12/11/2011]
"O negócio dos livros: como as grandes corporações decidem o que você lê", André Schiffrin, tradução de Alexandre Martins, Rio de Janeiro: editora Casa da Palavra,
1a. edição (2006), brochura 14x21 cm, 184 págs. ISBN: 85-7734-023-6 [edição original: The business of books: How the international conglomerates took over publishing and changed the way we read (Verso books, New York) 2000]
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