Uma das coisas que faço com reiterado prazer é voltar às histórias ligeiras, aos romances de aventuras, aos livros que cobram um exercício de minha memória afetiva, ao reconstruir com prazer aquelas tardes sem fim que ficava lendo os livros de meu pai. As aventuras do capitão Alatriste começaram a ser produzidas por Arturo Pérez-Reverte há pouco mais de quinze anos e alcançaram assombroso sucesso de crítica (o entusiasmo do catedrático Francisco Rico é insuspeito) e de público (as vendas se contam na casa dos milhões). De fato essa série de livros de Pérez-Reverte desvelam algo da Espanha do Siglo de Oro, quando o império se estendia por todo o globo. Como sempre, também em "El oro del rey" a história é narrada por Íñigo Balboa, que já velho, relembra os sucessos de sua juventude ao lado do industrioso capitão Alatriste. A ação se dá logo após os feitos descritos em "El sol de Breda", na cinza e fria região de Flandres, mas agora estamos em território espanhol, na ensolarada Andaluzia, na região do porto de Cádiz, da cidade de Sevilha, de Sanlúcar de Barrameda e do rio Guadalquivir. Alatristre é recrutado pelo duque de Medinaceli para uma empreitada arriscada em nome do rei da Espanha (Filipe IV): resgatar um grande carregamento de ouro que está sendo desviado pelo duque de Medina-Sidonia, o poderoso mandatário de toda a região da Andaluzia. Pérez-Reverte usa elementos históricos reais (uma conspiração independista planejada por Medina-Sidonia em meados do século XVII) e a flexibilidade do mundo da ficção inventado por ele, para contar uma história divertida,e movimentada, mas, claro, repleta de coisas previsíveis como combates singulares, visitas a catacumbas e prisões, passeios pela região do Guadalquivir, lutas encarniçadas com espadas e punhais, escaramuças noturnas, assaltos a navios repletos de soldados inimigos, mortes honradas e mortes miseráveis, condecorações honoríficas, reconhecimento público pelas façanhas. Há também o tempero das paixões amorosas, como a de Íñigo por Angélica de Alquézar, a sobrinha de um grande inimigo de Alatriste, que já conhecemos dos volumes anteriores do ciclo (O capitão Alatriste, Limpeza de Sangue, El sol de Breda), assim como a aparição mefistotélica do espadachim Gualterio Malatesta. Alatriste está como sempre caladão, pouco filosófico e muito objetivo. É uma máquina de guerra renascentista. O escritor Francisco de Quevedo volta a aparecer, como sempre usado por Pérez-Reverte para pontuar aqui e acolá com alguma referência histórica (ou para histórica) mais ou menos confiável. O trabalho de pesquisa de Pérez-Reverte não deve ser trivial e o efeito alcançado é mais que satisfatório. Leitura para um dia vagabundo, sem culpa e sem temor. [início 30/10/2011 - fim
01/11/2011]
"El oro del rey (Las aventuras del capitán Alatriste) volume IV", Arturo Pérez-Reverte, Madrid: Punto de lectura (grupo Santillana de ediciones),
2a. edição (2008), brochura 12,5x19 cm, 254 págs. ISBN: 978-84-663-2056-6 [edição original: Madrid: Alfaguara, 2000]
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