De Alejandro Zambra já li seus três outros romances ("Bonsai", "La vida privada de los árboles" e "Formas de volver a casa") e seu livro de ensaios ("No leer"). "Mis documentos", lançado no início desse ano, é um híbrido, algo entre contos e relatos autobiográficos ("mesmo a realidade precisa ser inventada", já nos ensinaram Isak Dinesen e Javier Marías). São onze narrativas, que por vezes parecem memórias de um sujeito/narrador que viveu a vida do autor Alejandro Zambra e noutras parecem invenções de alguém que assina Alejandro Zambra. Dos onze textos sete são dedicados a alguém, o que para mim infere algum tipo de cumplicidade entre o que é narrado e as experiências vividas entre o autor e aquele para quem é dedicada a história (como se ele tomasse de empréstimos as memórias destas pessoas). Há temas que se repetem: os gatos; os casais separados; o ofício de escritor ou professor; o futebol; as experiências do exílio e da solidão; o sexo como mecânica, não como emoção ou prazer. A história e a política recente do Chile (pelo menos desde os anos 1980 para cá) transbordam das narrativas, mas não são demasiado cansativas. O texto sempre é fluido. Lemos com prazer quase tudo (só achei tolo e artificial, cheio de frases feitas e "boutades" ligeiras o conto que descreve as tentativas de um sujeito em livrar-se do tabaco). De qualquer forma Alejandro Zambra é tipo do sujeito que não esgota nossa curiosidade sobre ele, o tipo de escritor que parece nos prometer sempre algo novo e seminal. Não é pouco.
[início: 26/03/2014 - 27/04/2014]
"Mis documentos", Alejandro Zambra, Barcelona: editorial Anagrama (narrativas hispánicas), 1a. edição (2014), 14x22 cm., 207 págs., ISBN: 978-84-339- 9771-5
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