De Louis Begley já li vários livros, inclusive os dois anteriores onde o protagonista é o mesmo Albert Schmidt deste recém publicado "Schmidt recua" (falo dos bons Sobre Schmidt e Schmidt libertado que li antes deste blog começar a ser abastecido com minhas resenhas, paciência). Todavia há algo neste novo Schmidt que me pareceu artificial demais, demasiado inverossímil. Talvez seja o papel que o sexo tem na narrativa, talvez o fato dos personagens serem idealizados demais, mas como não senti esse desconforto na leitura dos livros anteriores preciso pensar um tanto mais nisso. De qualquer forma lê-se "Schmidt recua" com prazer, Begley sabe contar sua história. Encontramos Schmidt com setenta e oito anos, nas festas de final de ano (de 2008 para 2009) durante a transição do governo George W. Bush para o de Barack Obama. Begley narra o reencontro de Schmidt com um amor tardio, o amor por Alice (que tem 63 anos e é viúva de um antigo "protégé" seu, um advogado chamado Tim Verplanck). Entretanto a história que o leitor irá acompanhar não será a dos desdobramentos deste reencontro, mas sim aquela de treze anos antes, quando Schmidt e Alice se apaixonam pela primeira vez. Begley utiliza esse artifício, esse deslocamento no tempo, para revisar detalhes da trama dos dois livros anteriores, contando algo mais sobre a doença e a morte de sua esposa Mary; o casamento, a família, o colapso nervoso, a recuperação e a morte de sua filha Charlotte; os dias de gravidez de uma antiga amante, Carrie; as aventuras românticas de seu empregador, Mike Mansour, de um de seus grandes amigos, o cineasta Gil Blackman e de Joe Canning, um escritor casado com uma amiga de infância. Há temas recorrentes em seu texto: o antissemitismo; a mundanidade; a política internacional; o uso prático da psicanálise; a história americana contemporânea; as tensões do sexo entre pessoas de gerações muito diferentes; as questões de herança, partilha e posse de grandes bens materiais. Em algum momento do livro ecos de Lawrence Durrell e Marcel Proust me arrebataram. Comecei a ver em Popov (um namorado de Alice) Bloch, em Schmidt e Mansour uma mescla dos humores de Balthazar, Mountolive e Nessin, em Alice algo de Justine e Oriane. Talvez seja por conta destas evocações que eu tenha seguido com o livro até o final (apesar de suas imperfeições, que aborrecem um tanto).
[início: 08/05/2014 - fim: 12/05/2014]
"Schmidt recua", Louis Begley, tradução de Rubens Figueiredo, São Paulo: editora Companhia das Letras, 1a. edição (2014), brochura 14x21 cm., 400 págs., ISBN: 978-85-359-2380-3 [edição original: Schmidt Steps Back (New York: Alfred A. Knopf Doubleday Publishing Group / Random House / Bertelsmann) 2012]
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