Nunca havia lido nada de André de Leones, jovem e premiado escritor goiano, radicado em São Paulo. Ele já publicou sete livros, o mais recente, "Eufrates", ainda quente, recém saído das rotativas (e já viajando pelas nuvens digitais). Recentemente li o romance imediatamente anterior dele, "Abaixo do Paraíso", publicado em 2016. Se o início do romance induz o leitor a pensar que se trata de algo relacionado a solução de um mistério, como numa história policial, rapidamente percebemos uma mudança de tom e de estofo, ao submergirmos na consciência, ora cínica, ora pesada, de um típico trambiqueiro da política nacional, aquela espécie de sujeito que vive de fazer favores aos detentores de mandato, aos corruptos de plantão. Esse sujeito, Cristiano, é ainda jovem, formado em Direito, mas sem nunca tendo exercido a advocacia. Seu pai é um fazendeiro do interior de Goiás, se não exatamente próspero, certamente sem problemas financeiros aparentes, já casado com outra pessoa e com uma filha universitária. Nos tempos em que frequentava o curso superior, mais preocupado em facilitar drogas para os amigos e seduzir mulheres no campus, conheceu Paulo, que o introduziu no mercado e na vertigem da política. O livro é de fato bem escrito, com diálogos sempre curtos, enfeixados por flashes nunca cronológicos, fluxos de consciência e reflexões sobre o Brasil contemporâneo. As referências bíblicas são óbvias e de certa forma estruturam o romance. Os temas que povoam a conturbada mente e memória de Cristiano gravitam os ritos de passagem, o luto, a morte de pessoas próximas, a culpa cristã, uma possível redenção, sua volta para casa como filho pródigo, a purificação de seus vícios de conduta, seus muitos pecados capitais. Nele estão entranhadas a perversão, o pecado original, seja pela genealogia viciada, seja pelo ambiente tóxico de sua atividade. No fundo quase todos os operadores do Direito brasileiro, esse apodrecido, enorme e inacreditavelmente caro sistema judiciário, são variantes de Cristianos, atuam nas margens turvas da lei para facilitar que os corruptos de sempre alcancem suas vantagens. Aos pequenos atravessadores sobram migalhas que eventualmente seus senhores mentais deixam para trás. Gostei. Vou procurar outros livros de Leones, seguro que sim. Cabe ainda acrescentar aqui uma cousa mais. Foi o Erwin, amigo de longe e também conhecedor de minhas falhas, quem perguntou-me noutro dia se eu havia lido algo do André de Leones e que, generoso, fez chegar um volume até mim. Grato meu caro Erwin, Viva. E segue o baile. Vale!
Registro #1323 (romance #348) [início: 26/05/2017 - fim: 31/08/2017]
"Abaixo do Paraíso", André de Leones, Rio de Janeiro: Editora Rocco,
1a. edição (2016), brochura 14x21 cm., 253 págs., ISBN:
978-85-325-2977-0
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