Os livros que li do Coetzee em 2004 foram meus favoritos. Logo após dele ter ganho o prêmio Nobel de 2003 resolvi experimentar "Disgrace" e logo falei para meus amigos do quanto estava gostando. Passei à todos os outros em português e logo virei um entusiasta. Fui a sebos procurar antigas traduções de seus livros mais antigos e ainda não reeditados pela Companhia das Letras, sua atual editora no Brasil. Dentro outros li também as traduções de "The Master of Petersburg", de "Boyhood" e de "Youth" (meus favoritos, confesso) e de "Elisabeth Costello". Tentei até emular seu estilo seco e objetivo, mas não sou um escritor e sim um leitor contumaz. Logo desisti e fiquei apenas na tentativa. Semana passada, andando por Madrid, encontrei um livro de ensaios dele: Costas Extrañas. Resolvi experimentar e pronto, a velha mágica dele tinha uma vez mais funcionado comigo. São 26 ensaios escritos entre 1986 e 1999, alguns sobre já clássicos óbvios: Borges, Kafka, Rilke e Turgueniev e outros de autores talvez um tanto menos conhecidos, mas representantes fortes da literatura rica e multifacetada de sua África natal: Mahfuz, Breytenbach, Nadine Gordimer e Daphne Rooke. A maioria deles foi inicialmente produzida para publicação no The New York Review of Books. Estamos falando então de um livro sobre muitos outros livros. Em geral ele coteja uma tradução recente à época, com sua própria leitura no original feitas anos antes. Noutras vezes ele faz um balanço da produção total de um sujeito. Sua prosa nestes ensaios é tão convincente e agradável quanto a que experimentei nos livros de ficção. Gostaria de assistir uma das aula de crítica da literatura que ele dá na Austrália e na Cidade do Cabo alternadamente. Vez ou outra há uma sutil ironia dirigida ao autor ou aos tradutores dos livros, mas sempre é algo que ajuda o leitor a formar opinião e decidir-se por aventurar-se ou não naquela leitura. A abrangência dos interesses é enorme, mas mesmo quando se trata de alguém sobre quem nunca ouvi falar minha atenção nunca é desviada. Como diz a contracapa do livro "... existem livros que remetem a outros livros, a outros autores e histórias e que nos convidam a continuar reflexões pessoais de mestres da literatura e da crítica". Costas Extrañas é mesmo uma festa para a inteligência e também uma pequena mostra da força deste excelente escritor.
Costas Extrañas. Ensayos, 1986-1999, J.M. Coetzee, traducción de Pedro Tena, editora Debate, 2a. edición (2005), ISBN: 84-8306-593-2
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