Ondjaki (ou ondjaki, em minúsculas, como e.e.cummings) é um jovem escritor angolano, de pouco mais de trinta anos. Apesar de jovem tem um obra já numerosa e seus livros têm alcançado sucesso de crítica nos últimos anos. Este é o primeiro livro dele que tive a chance de ler. Ele chama o que incluiu no livro de "estórias". Para mim são mesmo causos travestidos de contos. Nunca se pode confiar no que diz ou escreve um escritor sobre sua obra. A biografia vaza quando encapsulada na ficção. A invenção domina quando o escritor pensa explicitar fatos. Nunca se sabe. Ondjaki narra 22 histórias curtas em torno de uma juventude que brota. Acompanhamos os familiares, os amigos do bairro, as meninas da escola, os pais amorosos, o tio estranho, os vizinhos da rua, as descobertas do mundo de um narrador arguto. Seu texto traz palavras e construções que nosso português brasileiro sabe algo estravagantes, mas que demonstram exatamente o vigor de um autor que já conhece seu ofício. Como é curioso saber em Angola se come "manga com sal", que se pode pintar com "aguarela", que a infância lá tem ritmos similares aos nossos. A presença brasileira se dá através das novelas (pobres angolanos, não sabem o azar que têm). As pequenas tragédias nunca cessam. O narrador fala de uma viagem de férias à Naníbia, das cicatrizes da guerra civil, das vizinhas muito míopes que precisam de uma operação delicada nos olhos, da presença cubana através dos professores na escola (camarada professor ele os chama, que patético). As histórias se passam no início dos anos 1990. O narrador deve ter uns 12, 13 anos. A cota de desgraças de Angola não contamina este livro (como faz com vários daqueles que li do Agualusa por exemplo, editados por esta mesma Lingua Geral). Talvez a geração de Ondjaki seja exatamente aquela dos que tiveram a sorte de já ver o país sendo reconstruído, difícil dizer, pois antecipar felicidade e paz nos países africanos só pode ser um desejo irrefletido. Os causos terminam quando os pais do narrador decidem emigrar para Portugal (uma nova etapa da guerra civil parecia estar se iniciando, os realmente jovens devem ser poupados destes azares). Apesar de seu exotismo parecer-me demasiadamente artificial, construído mesmo, procurarei mais coisas deste sujeito. Bueno. Este livro ganhei da Tânia, amiga querida, mas ela não sabe (pois foi com um cheque livro que ela me presenteou). Detalhes. [início 17/03/2011 - fim 19/03/2011]
"Os da minha rua", Ondjaki, Rio de Janeiro: editora Língua Geral (coleção Ponta de lança), 1a. edição (2007), brochura 13x18 cm, 164 págs. ISBN: 978-85-60160-23-5
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