terça-feira, 29 de outubro de 2013

minha vida ridícula

Adão Iturrusgarai é um dos cartunistas (e quadrinista e chargista) mais criativos de sua geração (que vou definir como aqueles que nasceram na segunda metade do século passado, mas antes da queda do Muro de Berlim, simples assim). Ele é o inventor dos caubóis gays "Rock e Hudson" (personagens que foram criados bem antes do filme "The secret of Brokeback Mountain"); da garota Aline e seus dois namorados, Otto e Pedro (cujas histórias já foram adaptadas para a televisão); do Homem-Legenda (um super herói caçador de hipócritas) e tantos outros (há um bocado de diversão no site dele: "o mundo maravilhoso de adão iturrusgarai". Seguramente é dos mais debochados cartunistas que conheço. Não há assunto, tema ou grupo que escape de seus comentários sarcásticos. Lembro dele como uma espécie de penetra (ou mascote) no mundo bizarro dos cartunistas um tanto mais velhos que ele: Angeli, Laerte e Glauco, mas já se via que o sujeito tinha mesmo talento (e, de qualquer forma, Angeli, Laerte e Glauco jamais foram condescendente com ninguém, muito menos apadrinhadores de puxa-sacos). Recentemente precisei enviar coisas do Adão para um amigo espanhol (que descobri ser um entusiasta de seu trabalho - "JMG, sus libros pronto serán enviados a Madrid!") e resolvi aproveitar para ler os volumes também. São histórias autobiográficas, marca registrada dele, mas nada que deixe a vaidade contaminar os registros curiosos da vida contemporânea que faz (Adrian Tomine também é um sujeito que escreve histórias autobiográficas e, a exemplo de Adão, faz sociologia selvagem da sociedade, mas há muito menos humor e escracho em Tomine que nos quadrinhos do Adão). Ele incluiu também neste volume contribuições de amigos cartunistas (Eloar Guazzelli, Fido Nesti, Caco Galhardo, Allan Sieber, Otto Guerra, Estevan Santos, Arnaldo Branco, Zed Nesti, Gustavo Sala, André Dahmer, Rafael Coutinho e Benett), explora as possibilidades de produzir tiras em parceria com sua mulher (emulando algo que Robert Crumb já fez) e acrescenta até um punhado de fotos. Interessante. Atrevido, Adão termina o livro dizendo: "Sexo limpo e arte responsável não servem para nada". É mesmo rápido esse sujeito. Vou escrever mais sobre ele.
[início - fim: 27/10/2013]
"Momentos brilhantes da minha vida ridícula", Adão Iturrusgarai, Campinas (São Paulo): Zarabatana Books, 1a. edição (2012), brochura 21x28 cm., 63 págs., ISBN: 978-85-60090-44-0

Um comentário:

vera maria disse...

NOssa, vc não cansa de me indicar livros, que ficam aqui me olhando e me dão mega culpa por não lê-los. Esse vem pra cá, se eu achar, achei interessante por tudo, assim como já encomendei à Travessa o livro Fim, com o qual Fernanda Torres inicia-se no campo do romance, e sobre o qual li um ótimo comentário em forma de carta (isso talvez possa parecer uma indicação, mas é só um comentário mesmo ::))

abraço grande,
clara aka vera, ou vice versa