quinta-feira, 8 de novembro de 2007

dieta

Já escrevi aqui que uma das minhas alegrias neste ano foi ter sido apresentado aos livros de Manuel Vázquez Montalbán. Este volume da série Carvalho garimpei no site de sebos estantevirtual, "barratinho, barratinho". Acredito que veio diretamente de algum balaio porteño, uma excelente edição da editora Planeta Argentina, com direito a um curto ensaio sobre a gastronomia sempre presente nos livros de Montalbán no final. Uma das coisas que me impressiona é a variedade de seus temas e a vívida imaginação deste sujeito: ele sabe mesmo como contar uma história, por mais inverossível que pareça. Isto o difere em muito do Garcia-Roza por exemplo, que te deixa brabo com umas coincidencias, uns desfechos, umas soluções, que são mesmo de amargar. Publicado originalmente em meados dos anos 80, El Balneario se localizano início da segunda metade da série de livros com o personagem Carvalho, ou seja, se o autor já havia se mostrado um mestre na prosa, ganho muitos prêmios literários e já era senhor de uma reflexão madura e inteligente sobre a Espanha, o personagem já devia estar um tanto acima do peso após a dezena de livros onde a gastronomia é um personagem de apoio, funcional e onipresente definitivamente. Desta vez o detetive Carvalho está de férias em um spa, um balneário, seguindo os conselhos de seu médico para se desintoxicar, perder peso, relaxar da vida dura em Barcelona. Curiosamente não há propriamente receitas neste livro (se é que as sopas ralas da dieta do balneario podem ser consideradas quitutes gastronômicos). Mas é a ausência de comida e as implicações das dietas em cada indivíduo que dá ritmo ao livro. Como diz o personagem principal do livro em um lugar como este nada acontece até o preciso momento em que algo acontece. Não um, mas uma série de crimes acontece e o autor fica a se perguntar se é possível convencer um leitor da verossimilhança disto tudo. O Balneario me parece uma metáfora da Espanha, ainda dividida entre a aproximação com a riqueza da Europa e do Mercado Comum e seu passado de Ouro (nos séculos XVI e XVII) e de crises (na Guerra Civil e no Franquismo). Há muita discussão sobre o papel da política, das greves, da história e da luta de classes, na vida das pessoas comuns, mais simples. No final uma outra metáfora: um baile de máscaras, no encerramento do período de tratamento de todos os internos do balneário. Gostei muito da trama, do tema, do tratamento. Este é mesmo um outro belo livro de Vázquez Montalbán. Junto com este volume recebi também da estantevirtual uma edição cubana de "La Soledad del Manager", e em breve também o resenharei aqui.
El Balneario, Manuel Vázquez Montalbán, editorial Planeta (Argentina), 1a. edição (1997) ISBN: 950-742-961-1

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