domingo, 3 de maio de 2009

seu rosto amanhã 1: febre e lança

Comprei este "Seu rosto amanhã (vol.1. - Febre e lança)" em 2007, em um sebo do bairro do Flamengo, quando estava flanando pelo Rio após um congresso de magnetismo dos bons. Já conhecia Javier Marías (alguns eu já resenhei aqui), mas fiquei surpreso ao comprar um romance dele tão barato, ainda por cima em um sebo tão modesto, de um balaio onde havia de tudo um pouco. Quando voltei deixei o livro perdido entre os demais e ele teve de mostrar suas garras para que eu o resgatasse e começasse a lê-lo. Meu dia de aniversário estava chegando e eu sempre gosto de voltar as cousas de Espanha nesta época. "Seu rosto amanhã" é um grande romance, que Marías publicou originalmente em três partes nos anos 2002, 2004 e 2007. Segundo ele não se trata de uma trilogia, mas sim um grande romance, um sinuoso romance, sinuoso como um rio, que um dia poderá ser publicado em um único volume. É um livro onde há poucos cenários, mas onde a ação se desenvolve em miríades de detalhes, reviravoltas, desvios, reflexões. Estes cenários são três: uma festa organizada por um velho professor de um dos "colleges" da Oxford milenar, sempre cara à Marías; uma reunião em um discreto "bureau" de um serviço secreto de informações inglês; e uma conversa a beira do rio Isis, entre o velho professor e o narrador da história, conversa que acontece na manhã seguinte ao jantar descrito na primeira parte, e que antecipa o que acompanhamos na parte central da história. Trata-se de uma história complexa, "pós onze de setembro de 2001" se podemos definir assim uma história, e que, provavelmente, somente vamos entender ao finalizar o terceiro volume (diferentemente do que li em algumas críticas deste romance, não se trata de volumes que possam ser lidos de forma independente, mas esta é outra história). O tema central me parece até aqui ser o da impossibilidade de conhecermos realmente alguém, pois um rosto, uma personalidade, uma vida enfim, pode ser apenas superficialmente conhecida. A traição, a desconfiança, os segredos surperpostos, as surpresas, abundam no livro. O romance está recheado de enigmas, mas ler um romance é um tanto como ler uma pessoa, descobrir o que ela é e o que ela quer que entendamos o que ela seja. Há personagens muito curiosos neste livro: Tupra, que aparentemente testa e contrata o narrador para um tipo de atividade relacionada a espionagem; Wheeler, o velho professor, com título de nobreza e um passado vinculado às grandes guerras do século passado; e claro, Deza, o narrador, um espanhol que vive de traduções e cujo nome é grafado de várias formas. Vou tentar ler de pronto os demais volumes (a tradução do segundo saiu no ano passado no Brasil, mas o terceiro volume está prometido apenas para o ano que vem). Há muito que lembra Proust e também Lawrence Durrell no texto de Javier Marías. Excelente romance. [início 03/03/2009 - fim 01/04/2009]
"Seu rosto amanhã: febre e lança", Javier Marías, tradução de Eduardo Brandão, editora Companhia das Letras (1a. edição) 2003, brochura 14x21, 406 págs. ISBN: 978-85-359-0423-9

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