segunda-feira, 18 de abril de 2011

n.d.a.

Considerando os trabalhos individuais e as antologias Arnaldo Antunes já publicou uma dezena de livros. Ele é conhecido por seu protagonismo no ofício de experimentar com as formas poéticas. Nesta sóbria edição da Iluminuras ele nos apresenta três séries de trabalhos que compõe três unidades distintas, mas que interagem entre si. Há trabalhos que remetem a poesia concreta, ao Augusto de Campos, ao e.e. cummings, já outros lembram os poemas visuais (ou poemas objeto) de Joan Brossa. De qualquer forma ao final associamos todos eles a obra dele mesmo, inegavelmente um dos bons poetas brasileiros de nosso tempo. A primeira série de poemas, bem mais longa e mais antiga (e que dá nome ao livro), "n.d.a.", enfeixa poemas com imagens e elementos gráficos, além de experimentos que fragmentam os poemas até o limite de uma coluna, uma linha ou até uma única letra. Sempre me surpreendo com o efeito que a distribuição espacial das palavras nas páginas provoca. Me surpreendo também com coisas que poderiam ser denotadas artes plásticas, mas que colocadas ao lado de poemas como que roubam para si algo da musicalidade da poesia. Já a série "nada de dna" é mais recente (de 2006 em diante) e bem curta (toma aproximadamente apenas um quarto das propostas do livro). Nela Antunes alterna poemas curtos com poemas visuais e desenhos brincalhões que ele chama "hand made". Entre estas duas séries Antunes inclui um conjunto de fotografias que ele chama "cartões postais". São fotografias de lugares, placas, registros e anúncios urbanos. Fotografias reais, sem intervenção digital (acredito eu, sem conhecer bem a proposta) onde a palavra - bem mais as palavras, as idéias - ademais de inusitadas, parecem brotar espontâneamente. Um olho menos treinado as deixaria ali na paisagem, mas ele consegue ter o tino de registrá-las de alguma forma (fico a pensar se ele não tem uma legião de estafetas que recolhe estas coisas mundo afora). Mas é no conjunto que elas encontram a voz que não tem individualmente (por serem anônimas, claro). Desvelada por um autor forte, elas provocam o leitor a educar seu olhar. Enfim, "n.d.a" é o tipo de livro que não nos rouba tempo, passamos horas divertidas e prazerosas em sua companhia. Cousa boa. [início 25/03/2011 - fim 07/04/2011]
"n.d.a", Arnaldo Antunes, São Paulo: editora Iluminuras, 1a. edição (2010), brochura 15x21 cm, 207 págs. ISBN: 978-85-7321-319-5

Um comentário:

marcelo sahea disse...

Sem dúvida, Guina, Arnaldo é sempre bom de ouvler. Abraços!