Primeiro livro publicado de Georges Perec, "As coisas" não é interessante como "Vida: modo de usar", nem tem as curiosidades linguísticas caras ao OuLiPo, como "A disparition" ou "Les revenentes", mas é o tipo de narrativa que vale o tempo de um sujeito. É um livro pequeno, pouco mais de cem páginas, que lembra o "Bouvard e Pécuchet", de Flaubert, mas que não disfarça uma leitura marxista da história, algo esquemática demais para o meu gosto. Perec descreve uma sociedade de consumo ainda incipiente, mas que já no tempo da narrativa, início dos anos 1960, domina as ações, projetos e desejos de um jovem casal. Jérôme e Sylvie abandonam os estudos universitários e passam a trabalhar no ramo da publicidade, com pesquisas de opinião. Flertam com uma vida pequeno-burguesa, alternando períodos de ganhos financeiros expressivos e aborrecimentos; viagens caras e gasto de tempo ou dinheiro com futilidades; preocupações com o futuro e sonhos imbecis (que só completos idiotas, mas felizes, sabem ter). Perec parece antecipar o mundo em que vivemos, onde dificilmente um sujeito escapa da sedução do consumismo e das aparências. Não há surpresas no desfecho da história de Jérôme e Sylvie. Após uma temporada difícil nas colônias africanas eles voltam à França e ao conforto material que só o mundo do dinheiro sabe oferecer. Perec (que era um sujeito muito bem humorado e irônico) iria se divertir á beça neste adorável mundo novo em que vivemos, onde a estupidez é mesmo uma poderosa moeda de troca. [início 20/04/2012 - fim 24/04/2012]
"As coisas: uma história dos anos sessenta", Georges Perec,
tradução de Rosa Freire d'Aguiar, São Paulo: Companhia das Letras , 1a.
edição (2012), brochura 14x21 cm, 116 págs. ISBN: 978-85-359-2021-5 [edição original: Les Choses: Une histoire des années soixante (Paris: Éditions René Julliard) 1965]
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