domingo, 27 de maio de 2012

poem(a)s

Esse é outro dos volumes de poesia que li, mas sobretudo carreguei como Sísifo, de casa para o trabalho, ao longo de vários meses. À exemplo de Junco e Trovar claro, já resenhados aqui, em breve irão juntar-se a eles os demais companheiros de périplos: Calendário, Animal anônimo e Formas do nada. "Poem(a)s" é em boa parte uma reletura, já que mais da metade dos poemas de e.e. cummings nele transcritos li em uma edição antiga da Brasiliense, em meados dos anos 1980. Há poemas que me encantam desde aquela época: "l(a leaffa ll s)onel iness" - que é para ser lido na vertical, paciência - e que copiei e enviei para tantos amigos extintos, como o Péricles e a Misa, as Tânias, ou o Oscar; "a politician is an arse upon which everyone has sat except a man", que virou o dístico agressivo de meus primeiros e-mails no ifusp; ou aquele que termina com "nobody, not even the rain, has such small hands", que o Woody Allen usou em Hannah e suas irmãs e que embalou minhas açucaradas cartas de amor por anos. Augusto de Campos trabalha na tradução de poemas de cummings desde 1954. Esta bela edição da editora da Unicamp faz menção a todas encarnações anteriores que teve: dos dez poemas de 1960; vinte de 1979; quarenta de 1986 e sessenta e dois de 1999, incluíndo as introduções e comentários incluídos nelas. O livro tem ainda um generoso apêndice, onde encontramos, além da biografia, da bibliografia completa de cummings, textos publicados anteriormente em jornais por Augusto e de Haroldo de Campos, fac-símiles de cartas, postais, fotografias, capas das edições anteriores, recortes de jornais e provas tipográficas de alguns poemas. É um livro para se deixar à mão e folhearmos sem pressa, até encontrar algo que chame a atenção, um livro onde sempre se vai tentar racionalizar o encantamento original da forma, de suas construções complexas e desafiadoras. Cada leitura sugere uma interpretação distinta, um quetionamento sobre os objetivos do autor que ultrapassa os poucos minutos que dedicamos a cada poema. A edição é bilingue, portanto o leitor é convidado a experimentar suas habilidades com o inglês e eventualmente cotejar suas leituras com as de Augusto de Campos. Esta não foi uma releitura qualquer, mas sim uma releitura necessária. Vale. [início 11/02/2012 - fim 19/05/2012] 
"Poem(a)s", e.e. cummings, tradução de Augusto de Campos, São Paulo: editora da Unicamp, 2a. edição, revista e ampliada (2011), brochura 16x23 cm, 248 págs. ISBN: 978-85-268-0892-8 [edição original: Complete poems: 1904-1962 (George J. Firmage) (New York: W.W. Norton & company) 1994]

4 comentários:

danissanti disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
danissanti disse...

Ah, preciso incluir esse livro na minha biblioteca itinerante. Me encanta. "Nalgum lugar" é o poema sem fim, cada vez que releio descubro algo novo...

marcelo sahea disse...

cummings!

danissanti disse...

Dá um certo trabalho, exige tempo e atenção, mas compensa. Estou curtindo muito. Que tour de force do Augusto de Campos; apesar que às vezes se toma demasiadas liberdades...