terça-feira, 28 de agosto de 2012

la línea de sombra

Em "La línea de sombra" Joseph Conrad exemplifica por meio de uma aventura no mar como se dá a transição da juventude para a idade adulta. Um rapaz, imediato em um navio mercante que acaba de chegar a um porto dos mares do sul, decide dar baixa definitivamente, afastar-se do mar, mas é convencido por Gilles, um velho e persuasivo capitão, a aceitar um posto de comando. O antigo capitão deste navio que o rapaz vai assumir morreu durante uma travessia. A tripulação acreditava que Burns, seu imediato, iria substituí-lo e fica surpresa com a designação do jovem capitão. O rapaz decide colocar o navio em alto mar rapidamente, pois planeja evitar um surto de cólera no porto. Mesmo a contragosto e já algo adoentado o antigo imediato do navio o acompanha. Os ventos fracos, o tédio com as manobras e as repetidas baixas na tripulação por conta do cólera tornam a viagem extremamente desgastante. O jovem capitão alterna momentos de euforia, inteligência e coragem com momentos onde se mostra inseguro, fraco e assustado. A passagem onde ele descobre que todo estoque do que ele acreditava ser quinino tratava-se na verdade de ópio é espetacular. Outra passagem poderosa é aquela onde o completo silêncio antecede uma terrível tempestade (pode ser uma travessura de minha memória, mas há uma certa simetria desta passagem com o final da primeira parte do "Orlando", de Virgínia Woolf, aquela onde gotas da chuva vergastam o rosto de Orlando, que estava a esperar sua amada Sasha debaixo do dintel de uma porta). O jovem capitão é estimulado a continuar a travessia em parte pelas lembranças dos espirituosos conselhos do velho capitão Gilles e em parte pelos irônicos e bem humorados comentários do cozinheiro Ransome (único além dele a não ficar doente). Mesmo com praticamente toda a tripulação prostada pela doença o jovem capitão consegue estimulá-los a fazer o navio suportar a tempestade, até alcançarem seu porto de destino. Ao chegar ali já é um homem adestrado para os desafios do mar. Ao invés de descansar apresenta-se prontamente para uma nova viagem, uma nova provação. Está pronto para fazer-se ao mar uma vez mais, sem temor. [Ontem mesmo meu amigo Ian Alexander lembrou-me do quão desafiador eram essas viagens marítimas, em frágeis navios de madeira, algo somente comparável às viagens espaciais de nosso tempo. Concordo com ele. Que sujeitos audaciosos deviam ser aqueles marinheiros. E quão destemidos são esses astronautas que se enamoram do espaço.]
[início 08/08/2012 - fim 16/08/2012]
"La línea de sombra: Una confesión", Joseph Conrad, tradução de Javier Alfaya Bula e Javier Alfaya McShane, Madrid: Alianza editorial (el libro de bolsillo), 1a. edição (2004), brochura 11x17,5 cm, 153 págs. ISBN: 84-206-5739-5 [edição original: The Shadow Line: A confession (London: J.M. Dent) 1917]

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